Terça-feira, Novembro 03, 2009

As ruas do meu bairro

Ontem corria as ruas do meu bairro...

E aquela luz mortiça dos candeeiros no anoitecer chuvoso de Dezembro, era conforto na minha alma. No café havia gente (umas vezes mais outras menos...) e o travo amargo da cafeína, de qualidade por vezes duvidosa, era contudo bálsamo para os pensamentos. O tempo perdia-se diluído por um ou outro digestivo, mas as conversas prolongavam-se amenas até a noite já ir alta... Havia magia naquelas ruas, havia ecos familiares e sons difusos, sons esses que não voltam mais...

"Entre dois dedos de conversa amena,
Na força de um abraço apertado,
A noite seguia, agitada ou serena,
Até o corpo se deitar cansado..."

Hoje já vagueio pelas ruas do meu bairro...

E à luz de um sol mortiço, procuro remoer um ou dois pensamentos. No moderno snack bar pouca gente conheço e embora o aroma do café seja bem mais agradável, não me desperta a alegria dos bons pensamentos. A tarde arrasta-se em alguns diálogos de circunstância... Sem grande magia, em sons que já não conheço e que não sei se irão ficar...

"Acaricio os dedos, maquinalmente,
Aconchegando o corpo na rua fria.
A tarde segue decadente,
Indiferente e tão vazia...

Amanhã andarei perdido pelas ruas... do bairro!

De noite ou de dia nem saberei sequer o que pensar! Se houver café tudo bem, senão serve qualquer coisinha! Se não falar tanto melhor... E certamente que dispensarei qualquer som que me perturbe os pensamentos!

"... é melhor aquecer os dedos em casa
E observar a chuva a cair lá fora...
Pois o som que de lá extravasa,
Não é a melodia que ouvia outrora...

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Terça-feira, Outubro 27, 2009

A verdade na mentira

Um movimento discreto e furtivo;
Um gesto protector e esquivo.

Um forte pesar na cabeça,
Esperando que a memória se esqueça...

Uma fuga, um escape doloroso.
Um hábito, no dia vagaroso.

Se os gestos são fugas de nós,
Se existe um amargo sincero na voz,
Se o escape é tão inocente
E a brisa corre amena e feliz,
Tão doce nas palavras que diz
Quando o mundo roda contente.

Então a certeza ninguém me tira:
De que existe verdade na mentira!

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Terça-feira, Outubro 13, 2009

Nas asas (de um tempo...)

Comando televisivo na mão,
Um sorriso meio perdido,
Um coração meio esquecido,
Um esgar de comoção.

Um ar contempletativo,
Uma tranquilidade inquietante...
Uma recordação distante
Num caminho definitivo.

Uma felicidade diferente,
Uma calma enganadora,
Uma imagem tentadora,
A incerteza pela frente.

É caminhar.
É lutar.
É chorar.
É desesperar...

É ter tudo para ser feliz...
E viver sempre insatisfeito,
Num quadro meio desfeito
De quem ainda é aprendiz...

Mas que nas asas do tempo, impiedoso,
Apenas voa para um fim...


...Glorioso?

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Segunda-feira, Julho 13, 2009

Pessoas

Embora me perca na noite é de dia que conheço as ruas de cada cidade... Turista acidental do destino. Ontem como hoje, mais ou menos vezes, parto sempre com destino mas sempre de surpresa...
O que busco é diferente! Não é a igreja deserta, ou o monumento mais badalado do sítio... Não! Eu busco pessoas...
Não me interpretem mal, não sou um caçador, busco pessoas para uma breve conversa, ás vezes um simples sim ou não. O psicólogo atende o doente que o procura. Não sou psicólogo portanto procuro eu o doente... Ou melhor não existe nenhum doente neste história! Apenas me interessa o ser humano seja ele quem for!
Não visito feiras nem largos apinhados... Longe de ser o político à espera de voto ou o religioso que tenta converter o mais solitário cidadão. Busco cafés, quanto mais simples melhor! Se tiverem jornais sobre as mesas melhor ainda! Por vezes passam-se horas solitárias até surgir alguém... Isto se não for o próprio proprietário da casa a puxar o primeiro assunto. Pelo sim pelo não vale a pena ter um jornal à mão (ou dois). A hora do dia determina a escolha: O café, ou a imperial... Se a hora for de imperial, o pedido da segunda aumenta a possibilidade do primeiro diálogo.
Finalmente surge alguém e começam as conversas, a propósito disto ou daquilo, do tempo, da actualidade, da própria imperial! E quase sempre é isso que procuro... A conversa banal!

Questionar-se-ão: E para que serve uma conversa que não passa do banal! Explico-vos com certeza, porém não sei se entenderão! Não sou um solitário. Tenho muitos e bons amigos. Amigos a quem conto os mais variados e até mais pessoais problemas. Todos menos aqueles que são mesmo muito pessoais...

E grita o leitor! Ah então temos aqui um seguidor da máxima do "contador de problemas a um estranho"...

ERRADO!

... e contudo certo! Faço-o mas não o faço... Não conto nada a nenhum estranho. Falo sob metáforas tão discretas que tudo fica imperceptível... Eternamente codificado! Em troca as conversas banais... A maravilha que é o ser humano: Em rostos, pessoas vulgares, pessoas que se cruzam connosco no dia a dia... Pessoas que tal como eu falam metafóricamente. Talvez não o façam, contudo, de forma intencional... Mas no fundo ao pousar das moedas sobre a mesa, no último e derradeiro boa tarde, somos capazes de sorrir... Ter um microsegundo de felicidade...

No fundo, sermos intimamente NÓS.

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Quarta-feira, Outubro 22, 2008

Saudades do Inverno

Não! Apre, que já é demais!
Já se vêem os cordões nas vitrines,
Anúncios em jornais, magazines,
Revistas e coisas mais!
Que raiva da febre consumista:
Do Dezembro ainda distante,
Da febre em todos dominante,
Da sociedade materialista,
Deste mundo actual!

Do corropio da multidão,
Das luzinhas de Natal
Enfeitando o quarteirão!


Mas Outubro é enfadonho...
Manhãs frias cortantes,
Tardes quentes sufocantes,
Sob um sol tristonho.
Que maçador que é:
Não ter praia para andar,
Não ter neve para pisar...
Percorrendo a rua a pé,
Nesta estação desigual.

Rua essa, sem multidão,
Onde se montam luzes de Natal
No quase deserto quarteirão


Ah que saudades tenho eu
Do frio ao entardecer...
Cruzando a tarde a correr,
Preso num pensamento meu.
Do corropio das pessoas,
Alegrando a calçada...
Da constante brisa gelada.
De muitas coisas boas,
No Inverno especial!

Ah saudades...

(Do corropio da multidão,
Das luzinhas de Natal
Enfeitando o quarteirão!)

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Segunda-feira, Outubro 13, 2008

À hora certa no lugar errado... (AZAR!)

Quilómetros percorridos a correr...
Sem tempo, para disfrutar.
A mente farta de lutar,
Os olhos já a ceder.

Milhas já gastas, usadas,
Para chegar e fugir,
Desfazer a mala e partir
Sem as novas aguardadas.

Meses calcorreados no calendário,
Metros de papel estendidos...
Dias, dias, mais dias perdidos,
Preenchendo o imaginário.

Um homem sempre apressado...
Parti!
Cheguei!
Voltei!
FUGI!
À hora certa, no lugar errado!

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Sexta-feira, Outubro 19, 2007

Realidades... opostas

Apertou o nó da gravata e abriu a porta do quarto... Desceu ao primeiro piso do hotel e sentou-se em frente à farta mesa do pequeno almoço. Que dia aquele!

Penteou-se e saiu da casa de banho... Percorreu o corredor escuro da casa e na cozinha preparou meio papo seco com manteiga. Mais um dia aquele...

Cumprimentou o motorista e entrou na viatura nova em direcção à reunião. Abriu a pasta e releu o discurso novamente.

Despediu-se da Dona Laurentina e entrou na carreira em direcção à cidade. Olhou para a mica e certificou-se que tinha trazido os papéis.

Entrou no edíficio à hora marcada e tentou permancer indiferente aos flashes que se desprendiam das máquinas fotográficas. Dirigiu-se ao púlpito indicado por um assessor... fez uma pequena pausa e começou a falar.

Entrou no centro de emprego dois minutos atrasado e fez-se indiferente perante a antipatia do empregado. Subiu ao sexto andar como indicado por ele. Abriu a porta e aguardou que o homem falasse.

- Caros presentes. Este novo empreendimento desta conhecida multinacional, revela-se de extrema importância como todos sabem... Daqui resultarão cerca de mil novos postos de trabalho e permitirá dar um novo fôlego neste importante sector empresarial.

- Senhor Sousa. Este plano que o centro lhe sugeriu, parece não ter surtido efeito... Daqui não resultou nada que alterasse a sua situação e precisamos de tentar mudar algo para o intruduzir novamente no mundo do trabalho.

Dirigiu-se para a sala reservada para o cocktail, foi-lhe entregue em mao uma garrafa de champanhe... com um sorriso para os presentes, soltou a rolha de forma ruidosa e pediu um copo.

Enquanto o funcionário se dirigiu a uma sala contígua com papelada diversa, reparou na janela que se encontrava á frente... com um ar resoluto que ninguém podia ver, abriu-a em silêncio e saltou para o parapeito.

Três breves segundos... O tempo que o líquido demorou a cair no copo, perante o som das palmas ruidosas na sala.

Três angustiantes segundos... O tempo que o corpo demorou a cair na rua, perante o silêncio daquela manhã calma.



Boa noite este é o telejornal! O Primeiro Ministro inaugurou hoje a nova filial da empresa Kronix em Lisboa.

Boa noite eu sou Comandante Gomes... Dona Laurentina lamento informar que o seu filho morreu hoje em Castelo Branco...

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Quinta-feira, Setembro 20, 2007

Um adeus

Um último e suave adeus...

Num mundo cheio de loucura,
De ódios e violência,
De sangue e destruição.
Mil vidas são reduzidas,
Mil esperanças vencidas
Numa guerra sem razão,
Numa doença sem cura
Que mergulha a Terra na demência.

Mais uma jovem vida... ceifada
Pela loucura deste mundo.
Para os amigos a saudade,
Para os familiares a consternação,
Para o ser anónimo a desilusão
Por mais uma acto de insanidade,
Que numa manhã ensaguentada,
Lançou um silêncio profundo.

Um pouco de justiça, meu Deus...


"À memória de Maria José Maurício, brutalmente assassinada na manhã de 18 de Setembro de 2007 em Coimbra, e a todas as vítimas inocentes da loucura deste mundo."

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Quinta-feira, Setembro 13, 2007

P. E. N. A.

Éramos dois sonhadores...
A música naquele entardecer...
E num momento de inspiração
Nasce uma nova canção,
Esquecem-se todas as dores
E algo mágico começa a aparecer...

Pensamentos a fluir
De gente tão normal.
Jovens simples e felizes,
Na escrita aprendizes.
Mas que fizeram surgir
Algo muito original.

Ideias, caneta e papel,
Um computador funcional,
Jacto de tinta, impressão,
Uma tesoura sempre á mão,
Um pedaço de cordel...
Ficou sensacional!

Fiéis e dedicados leitores.
Um desejo de expansão,
Penosos rochedos a escalar,
Mas com vontade de triunfar,
Jovens fortes e sonhadores
Continuaram a missão.

Um olhar cibernético,
Uma crença a alastrar...
À distância de um teclado,
Novo objectivo alcançado.
Textos em ritmo frenético,
Neste novo patamar.

Agora felizes, mas sempre a sonhar...
A nossa P. E. N. A. vamos celebrar!

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Segunda-feira, Agosto 27, 2007

Nevoeiro

O homem rouco tenta projectar a sua voz, no bar cheio... noite voraz, sinto-me esvanecer... a memória é a mesma, o nevoeiro, o rio...
Sou um ser que tenta nascer, uma certeza que parece morrer, na memória. Essa não está na rouquidão daquele homem, que murmura no caos do café.

8 da manhã e o nevoeiro levanta-se lentamente no rio... Nem café, nem abraço, nem palavras sábias, ou alucínio de uma qualquer cerveja. É o mundo alegremente cruel, tornando-nos frios a cada passo. O homem murmurava rouco contando as histórias da sua existência... eu sou apenas um jovem a despertar para as agruras da vida. Feliz por fora, rasgado no coração. A viagem, os raios de sol rompendo as árvores, aquele abraço que são tantos abraços, e o velho rouco cujo os abraços eram apenas a memória naquela noite ruidosa... A minha única saudade é a da manhã solitária, dez, quinze, vinte minutos atrás...

O homem é o sábio do tempo que um dia serei... projecção futura da minha existência, histórias alegres para contar, uma tristeza no olhar. Agora sou um banal vulto... projectado no rio, quando o nevoeiro por fim levanta.

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Segunda-feira, Junho 18, 2007

Espera

Espero... e nada espero...
Olhos fixos no corredor
Aguardando a revelação
Que nas águas da incerteza
Se tornou fado severo,
Esperando sem fulgor
Numa luta sem frieza.

Aguardo... e porque aguardo?
Porque no fundo do túnel obscuro,
Na angustia sufocante
Que parece não ter fim;
Existe um final esperado,
Uma esperança de futuro,
Um fulgor que cresce em mim
Em busca da luz brilhante.

Do nada recomeçar,
Encarar o caminho de frente.
E sem ser diferente...
Voltar a acreditar!

Esperando... e talvez nada esperando...

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Sexta-feira, Fevereiro 10, 2006

Últimos capítulos...

A cancela levanta... e o autocarro segue o seu rumo...

18h ... uma bruma leve cobre o entardecer e uma ultima claridade raia o horizonte...

Quechlamp... zump, zac... as rodas assentam no tabuleiro e a vertigem da viagem inicia... minutos, meses, anos... desenrolam-se numa marcha desenfreada pelo rio de recordações; sim esse que lá ao fundo toldado de uma escuridão ainda ténue, continua a correr como as lágrimas que se soltaram tantas vezes no entardecer de uma dor vivida, tais como aquelas que agora correm na separação sofrida de uma memória incontida... daquela casa, daqueles longíquos, mas tão presentes, portões.

Tum, tac... tum tac... tum tac...
Metros e metros de metal laranja passam... e quantas vezes mais passarão... muito poucas presumo. Para trás mil angústias, para trás mil peripécias... Momentos de felicidade são lágrimas de ternura... memórias são quadros pintados de doçura... Hoje a sorrir, choro por toda a memória do tempo que não volta... de tantas e tantas páginas que se ergueram, que construiram um livro. De paixão, de sangue, de suor, de lágrimas, da amizade, do sofrimento... até ao triunfante e deslumbrante grito do amor! Esse que enche o céu e se espalha incontido pelas planícies e montes, que ultrapassa todos os limites, que rasga os portões do cenário que não quero apagar da minha mente. Oh belas avenidas, jardins e edifícios... Tanta dor, tanta alegria... Tanta página da minha vida!

Chlamp, zunc, zap! O autocarro acelera finalmente a uma altura menos considerável... E acelera cada vez mais... A velocidade é agora vertiginosa... curva á esquerda, curva á direita, as rodas derrapam já, os pneus chiam e guincham parecendo querer desaparecer da carroçaria... a ultima curva á direita, arranca-me por momentos do assento, agarrado á vertigem da viagem que não me parece levar a lado algum...

2hoom... Os olhos de criança fixam o tecto... pensadores... sonhadores... o braço pousado... a voz metalica sussurante ao lado:

"Neste momento não é possivel estabelecer uma ligação entre si e o seu futuro... Por favor tente mais tarde..."

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Sexta-feira, Junho 03, 2005

Asas de um pensamento...

Olho perdido os rostos que se afastam para lá da vidraça...
Na mão a chávena; no seu interior o café tépido que insisto em agitar removendo das paredes os últimos vestígios de acúcar, que teimavam em colar numa massa castanha... Lentamente coloco a mão no bolso direito retirando o maço de tabaco carcomido e retiro um dos meus últimos cigarros... Penso um pouco e volto a recolocar o cigarro no maço.
Entretanto mais uma figura recorta o meu estreito horizonte em grande velocidade deixando-me uma saudação... Amigo? Inimigo? Pouco interessa... Retribuo com um gesto melancólico o cumprimento.
Volta a olhar para a janela do meu lado esquerdo... lá fora pequenos flocos brancos teimam em cair. Começo a sorrir aparvalhado. Estranho pensamento este de uma tempestade de neve em plena primavera asfixiante, em que o calor me percorre a fronte originando as gotas de suor que me cobrem a testa, e que ao mesmo tempo me procuram dar um pouco de hidratação, no inferno que se torna este espaço no qual partilho o meu pensamento de fim de tarde...
Estranho como sozinho construo o meu ode triunfal de glória alguma, que nem consigo descobrir qual. E como ao mesmo tempo partilho comigo próprio esta tristeza que sou incapaz de explicar... tão ínfima... tão pequena no mar de desgraças que tolda este mundo. Mas nós próprios somos talvez um mundo... sim pequeno! mas sempre um mundo! Tão nosso, tão importante!
E neste pensamento quiçá um pouco egoísta, nova reflexão profunda... Quão ridiculo o ódio quotidiano, toda a irritação que nos perturba, mergulhando-nos num caos, tão banal, tão mesquinho, tão humano.
Volto a sorrir curioso com a minha própria dissertação... O calor abafa-me cada vez mais... A desilusão que sinto, a frustração que me tolda o pensamento torna-se motivo da minha própria auto-chacota, enquanto volto a olhar para o exterior vendo agora aqueles flocos se toldarem com o alaranjado crescente de um enorme sol poente...
A cor inspira-me, levanto-me calmamente e a imagem de uma cerveja fresca apaga todo o marasmo existencial em que parecia cair.
É tempo de ir... Porque a noite ainda é uma criança... no seu leito de concepção.

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Terça-feira, Maio 17, 2005

Manicómio revisitado

A tarde calma, Domingo solarento,
A tarde repousante na avenida.
Mãos dadas... um futuro imenso
Nas asas de um momento intenso.
Uma poesia, palavras sentidas...
Um breve... demasiado breve momento...

Na violencia do reencontro,
A saudade de novo a aparecer;
O sentimento a ressurgir...
E numa vontade de fugir,
A pressa de tudo esquecer,
Para a crueldade do novo auto encontro.

E no novo cenario de real imaginário,
Afasto-me, sentindo o sangue escorrer...
Procurando envergonhado esconder
O meu rosto temerário...

Tentando mostrar o meu eu,
Memória de quem esqueceu:
O que era ambicionar,
O que era sonhar,
O que era acreditar...

Asas do sonho, violento acordar.
Os olhos fitam a nova realidade...
Adeus saudade no olhar,
Neste presente de insanidade.

Agora a braços com a tragédia;
Aquelas luzes ao entardecer,
Outrora tão cintilantes,
Parecem tão distantes...
E ao encontar um novo sofrer,
Dou asas à minha trágico comédia.

Qual triangulo de incerteza...
Recomeçou a minha alegre tristeza.

Bem vindo... á loucura!

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Sexta-feira, Fevereiro 25, 2005

Palavras

Palavras... rio incansável,
Águas que correm violentamente...
Que se agitam inexoravelmente
Numa raiva insaciável.

Águas que ferem, que matam!
Que afogam imagens e recordações,
Que exaltam mil emoções...
Que revoltas tudo atacam.

Barcos no rio, atentos estai...
Tempestade, tempestade!
Recolhei velas, que a hora é certa...
Alerta, alerta!
Na tormenta que aperta...
Tudo parte, tudo cai!
Rio cruel sem piedade...

Pela terra mil destroços...
Rio... Palavras perdidas,
Palavras na tempestade consumidas,
De uma verdade, que mata a verdade!

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Quinta-feira, Dezembro 09, 2004

Opostos

Gosto de ver o sol a se deitar,
O céu dourado ao entardecer.
Em pensamentos me perder
Antes de na noite navegar.

Observas o sol nascente
Que começa a manhã a tingir.
O tempo parece fugir...
De ti, eternamente...

Lentamente começo a despertar,
O quotidiano aperta-me feroz.
Mais um dia, quiçá atroz,
Destes em que me pareço arrastar...

Chegas a casa, cais na cama,
Fechas os olhos, procuras dormir...
O corpo começa a fugir
No entorpecimento que te chama.

Será que alguma vez te encontrei?
Será que alguma vez chamaste por mim?
Mundos opostos,
Verdades suspensas...
Na igualdade me despenhei,
Nas coincidências fiquei assim.
Cansei-me de pressupostos,
Mudei as minhas crenças...
E sem saber onde parei
Espero que do nada... surja um fim.

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Terça-feira, Março 09, 2004

Amor... em quatro etapas.

No princípio a inocência,
Amor...
Abraços mágicos ao luar;
Um rio, um regaço aconchegante,
Uma só paixão, uma só crença,
Sentimento, terna doença...
Até ao abandono desesperante,
Um rasgo forte de dor
Para um novo abraçar:
Diferente, mas em transparência.

Depois veio a loucura,
O fim do amor...
O fim da compustura,
O fim da verdade,
O travo amargo da madrugada,
A travessia amargurada,
O desgosto que perdura;
Sem mel, sem doçura...
Desvaneio sem sanidade,
Louco incontido no seu fulgor.

Hoje a redenção...
Amor?!
Sem saber o que sentir,
Sem saber o que procurar.
Anseio sem coragem,
Sonho sem acreditar...
Não há magia ao anoitecer,
Rostos ternos a mudar,
Momentos a desvanecer,
Recordação sempre a surgir...
O barco já sem vapor
Que me deixa preso na margem...
Um ser em busca do seu perdão.

Amanhã, a incerteza...
Amor de verdade...?
Sentir o que já senti,
Perder o que já perdi,
Esperança sem idade...
Fardo carregado com leveza,
Ou folha insustentável da minha saudade...

Esperando pela mão que me venha buscar
Ou pela força que me faça voltar.

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Segunda-feira, Janeiro 05, 2004

Liberta-me

Liberta-me desta fraqueza,
Porque só tu o podes fazer.
Devolve-me a pureza
Para que volte a renascer.

Salva-me da tentação,
Deste meu vil errar,
Do horror de me perder;
Do ilusório prazer
Que não passa de dor.
De um forte enganar
Que me trai a mim,
Que não é amor
E que descamba assim
Na maior solidão.

E se a tua mão não me tocar
Então voltarei a errar,
A errar,
A errar...

Liberta-me desta agonia,
Só restas tu para o fazer;
Para eu ter a magia
Que pacifica o meu ser.

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Cabroac 4 (epílogo)

...Não sei me salvar, não sei me salvar, não sei me salvar... O som perde-se, o cenário desfaz-se novamente e por fim acordo sobressaltado... uma sensação de desconforto percorre-me o corpo, cobrindo-me de suores frios.
Olho para o tecto branco... a luz que me surgia do sonho é apenas a luz do sol que brilha agora destorcida pela vidraça. A memória do sonho é agora miragem ao acordar, a cabeça rodopia, na boca o trago amargo do veneno mortal. Do alucínio apenas a mão que me prende ao abismo reflectido do meu rosto... metade intocável... metade Cabroac.
A lágrima torna-se incontrolável escorrendo pela cara abaixo, no sufoco do amanhecer.
Ao fundo apenas a recordação do meu grito de falso guerreiro. Transformado numa voz que se insurge e numa linguagem nova grita apenas, desta vez unicamente para mim: RESISTE!

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Terça-feira, Dezembro 16, 2003

Cabroac 3 (O fim de um mundo, uma etapa desconhecida)

...Olho fixamente para os seus olhos. Um misto de medo e incompreensão começam a tomar conta de mim. A atmosfera adensa-se ao fundo ouve-se o ribombar de um trovão, o céu enche-se de um ambiente de tensão.
As palavras custam a sair... Mas sinto que chegou altura de saber um pouco mais...
-Eu conheço-te... não sei de onde mas conheço-te.
Ele não parece ficar perturbado com as minhas palavras, e não diz nada... Riposto:
-Tenho a sensação de já te ter visto nos meus piores pressentimentos, nos meus sonhos mais negros... quem és tu, diz-me!?
Ele esboça um ligeiro sorriso:
-De facto conheces-me, mas se calhar não sabes quem sou. Faço parte do teu mundo de pesadelo, e sou mais do que tu podes ver aqui e agora!
- QUEM ÉS TU? DIZ-ME!
O ser começa a rir alto, e de forma estranha, como se muitos seres estivessem encerrados dentro dele, ao falar parece assumir vários tons de voz, começo a ficar com medo e deveras confundido:
- Eu sou apenas a representação de todo o mal que viste até hoje; eu não sou um, sou muitos. É simples: Desde que nasceste que eu existo, tu vês este mundo, sonhas com outro diferente, mas no fundo EU sou a verdade que tu vês, todo o mal. Eu sou a barreira mais negra dos teus sonhos, eu estou presente quando tentas vencer, e sou os vários rostos que vês quando és derrotado. Eu atormento a tua vida, destruo-a mercê da tua fraqueza, e não só. Eu rodeio todos aqueles que conheceste trazendo-lhes o caos, fazendo que também eles não entendam. Os cabroacs que conhecestes, são todos servos do Mal, mas também eles não têm culpa, assim como a representação que vês na tua frente não tem culpa: só nos alimentamos, das fraquezas de vós, pobres seres intergalácticos, dos vossos medos, das vossas pobres mentes. Á muito que alimentais o mal, esquecendo o amor, esse sentimento mesquinho que acreditaram ser a ponte para a felicidade, mas que não quiseram seguir como fonte para as vossas vidas, porque a oferta do reino do mal vos parecia mais tentadora, porque não vos livrastes das amarras que vos prendiam, lançadas por nós nos vossos planetas, nas vossas representações, nos vossos sonhos. E agora chegou o momento para ti de veres a REALIDADE! conseguirás resistir? AHAHAH!
O seu riso começa a fazer eco na minha cabeça como se tudo fosse um sonho... um sonho mau. Será que devo acreditar, se sim a realidade é mesmo um sonho e neste caso parece um pesadelo. Encho-me de coragem e grito:
-Eu vou vencer!!!
Ele responde sarcástico:
-É o que veremos, tantos que tentaram e poucos se conseguiram libertar e mesmos esses aguardam o mesmo destino trágico, aqueles que nós controlamos!! Observa!!!
De repente uma força imensa começa a formar-se. E absorto observo: Os dois guardas que se encontram perto do Cabroac que falava, são misteriosamente atraídos fundindo-se com o ser. Olho á volta: Todos os seres do planeta são atraídos também de forma impressionante, mas com uma particularidade arrepiante. Parecem sorrir de satisfação, iludidos, seduzidos pela doce loucura do mal. O ser com quem havia falado já não se via, tal o clarão de fogo gerado por tanta energia. Corro desperado numa última tentativa. Os olhos marejados de lágrimas, uma angústia imensa:
- RESISTI, NÃO VOS DEIXAIS IR, NÃÃÃÃÃÃOOOOOOOO!
E sou imediatamente projectado pela força monumental, oposta á força que não tenho para sair do pesadelo. Caio desamparado, enquanto o mundo desaparece por fim numa intensa bola de fogo...

Tit, tit, tit... o som de uma máquina, a agitação de um hospital, um sufoco, uma lágrima que parece se formar, não sei onde estou, não sei quem salvar... não sei me salvar.

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Domingo, Dezembro 07, 2003

Cabroac 2 (a nova civilização)

Caminho em direcção á pequena civilização... Prédios em crescimento, a uma velocidade surpreendente. Diria que isto não é obra dos Cabroacs... eles sempre se preocuparam mais em destruir, nunca tiveram grande jeito para civilizar. Se bem que os seus truques e manhas são por demais conhecidos neste espaço intergaláctico.
Avisto os primeiros seres deste planeta desconhecido, ao qual misteriosamente vim parar. Não são Cabroacs, não têm o símbolo deles marcado na testa. Vou ao encontro de um deles, tento saudá-los mas eles parecem não me ligar, com os olhos esbugalhados, absortos...
Trabalham a um ritmo impressionante com movimentos rápidos e decididos. Tento-me desmultiplicar numa diversidade impressionante de línguas, procurando captar-lhes a atenção; gesticulo, danço, rodopio, grito desesperado, ninguém me ouve... será que vim parar a um planeta de surdos? Reparo agora noutro pormenor... Estes seres são todos iguais, apresentam o mesmo rosto, o mesmo ar sombrio... não sei se doce, se maquiavélico...
De repente os trabalhadores param. Voltam-se todos para o mesmo lado, fazendo um gesto de continência, que só havia visto em Cabroac.
Ao fundo um ser aproxima-se. Enverga uma espécie de manto real... ao lado dois guardas prestam escolta; sobressaltado recuo dois passos... os três apresentam o C na testa: são Cabroacs!
Estacam os três diante de mim, olhando-me... o Cabroac com o manto parece ter um ar totalmente inofensivo, absorto, incompreensível... o meu espírito fica cem por cento alerta, sinto-me novamente na boca do lobo...
O olhar do líder torna-se mais penetrante, quase tirando-me as forças... e numa voz quase imperceptível, sussurra-me:
Oi...

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Porque me tratas assim?

Porque é que me tratas assim?
Porque pareces tão cruel?
Porque me dás desta forma o fel,
Em vez de me libertares da prisão de mim?

Onde foi todo o teu atrevimento?
Onde foste buscar tu esse medo?
Porque trocas todos os dias o enredo?
Porque me enganas neste sentimento?

E se por instantes me tentas orientar,
Deixo este fraco corpo mortal,
E voo para ti de forma tal
Que quase te consigo alcançar...

Mas fico só a pairar...
Estou proibido de te tocar...

O rio vai pela rua a correr;
Sem destino, sem vontade...
Também eu me deixo levar
Sem saber se devo procurar,
Sem saber o que posso ser.
Sozinho... nesta cidade...

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Segunda-feira, Novembro 17, 2003

Cabroac

Uma goteira pinga ao longe. O seu barulho ecoa por toda a galeria. É noite, ou pelo menos assim parece. O pequeno quadrado que serve de ponto luminoso deste isolamento parece já não emitir luz, pelo que presumo que o sol já se pôs. E é para o quadrado que me desloco, olhando o céu infinito...
Distingo claramente os planetas que já visitei e que agora parecem tão diferentes no céu limpo da noite de Cabroac... Os Cabroacs dizimaram estes planetas e as suas cores parecem esbatidas pela névoa que lhes tolda a superfície. Vejo ao longe o planeta Cirius á direita de Centrum, do lado esquerdo Salius, bem como pequeno planeta Kiria conhecido pelos seus abundantes recursos naturais, lembro-me bem... Abaixo Letanium e em agonia, com erupções constantes, Teloholla, um dos planetas mais massacrados pela invasão dos Cabroacs. mais á esquerda, o simples mas belo Daliaterus, nos seus tons de vermelho. a sua superfície parece estar relativamente intacta... Os Cabroacs nunca se interessaram muito em massacrar este planeta, talvez pela sua singularidade e pelo seu aspecto simples...
A calma da noite é subitamente interrompida por um imenso barulho; gritos e vidros a quebrarem-se e um fumo intenso que me sufoca. Arquejante, cambaleio uma última vez, até perder os sentidos...
Lentamente acordo e olho em volta. Já não vejo as paredes da cela... À minha volta um deserto; e ao longe os primeiros muros de uma cidade em construção...
Uma cidade que não conheço... Num mundo que não conheço.

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Segunda-feira, Novembro 10, 2003

Purgatório de sentimentos

Almas felizes repousantes
No suave leito do amor,
Que voando com asas de condor
Resistem a momentos oscilantes.
Porque o triunfo do coração,
No PARAÍSO é doce canção.

Almas desfeitas pelo final;
Lágrimas pesarosas, dolorosas
De mil atitudes maldosas,
Até ao acontecimento mais trivial.
Porque o amor que alegria traz
Se torna INFERNO, no mundo que se desfaz.

Do meu PURGATÓRIO, olho sonhador...
Muito para rir, muito para chorar;
Na caixa do meu amor
Não há extremo para tocar...
E se escapo ao mais vil sofrimento,
Não provo porém o mais doce contento.

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Segunda-feira, Outubro 13, 2003

Manhã

Atiro pela janela o último cigarro daquela noite, levanto os olhos... não há céu. Claustrofobia, calor... o ínicio do fim.
Baixo os olhos, o chão estacionário sob os meus pés... esse chão tantas vezes o caos da vertigem sonhadora.
Um último olhar pela janela. A magia da noite poente defronte dos olhos, esta paisagem, que se prepara para a banalidade quotidiana; será uma futura recordação?
Volto-me novamente, prisão libertadora, visão tentadora, corropio de sentimentos... e penosamente a madrugada torna-se um último abraço perdido num infinito mar, que de tão calmo, torna-se detentor de uma raiva tão silenciosa quanto contraditória.
O corropio atira-me para os primeiros raios de sol...
Os meus pés agora sobre a calçada húmida... de água? De sangue?
E o planeta dilui-se, na manhã dolorosamente mais incerta... e a noite perdeu a vontade de sonhar.

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