Sem pensar
Estou a tentar, com tanto esforço, não pensar tanto.
Estou a tentar não me esforçar,
mas se tento tanto não pensar
será que vale a pena não me preocupar?
Estou a mentir a mim próprio.
Eu digo que não vale a pena pensar,
mas será que não vale mais a pena dar as costas ao vento
e caminhar daqui para fora?
Tu olhas para mim e tento não pensar.
Penso nas palavras e elas tropeçam para fora.
Penso no andar e fico congelado no lugar.
Penso em não me preocupar o que achas de mim
e fico ridículo tentando não me esforçar.
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Verão
O ar nocturno era suave e quente, com uma brisa ligeira girando em torno dos nossos pés, tornando o nosso passo uma caminhada pelas nuvens. O rio ficava à nossa esquerda enquanto caminhávamos pela margem, um copo de bebida tentava gelar os nossos dedos mas sabia tão bem na nossa garganta. Ainda me lembro de ti a falares de politica e do mundo, alheia a tudo, esbraçejando com emoção enquanto eu sorria e desviava-te das pessoas antes que as empurrasses à tua frente. Foi o nosso Verão, alheios ao mundo, num romance tão belo.
Ainda te lembras dos jardins que visitámos?
Ainda te lembras das fotografias que tirámos?
Ainda te lembras das carícias que trocámos?
O sol nas nossas costas ardia mas era tão fácil ignorá-lo enquanto subíamos a serra. A paisagem até perder de vista fazia-nos perder o fôlego. Teus olhos brivalham enquanto olhavas para longe e os meus brilhavam olhando para ti. Ainda me lembro de ti a tirares fotos a tudo enquanto eu me ria e roubava fotos de ti. Foi o nosso Verão, presos um ao outro, num romance tão lindo.
Ainda te lembras dos edifícios que vimos?
Ainda te lembras dos sonhos que descobrimos?
Ainda te lembras dos prazeres que sentimos?
E agora aqui estamos, alegres desconhecidos um do outro. Tu passeando com a tua família, de braço dado com o teu marido, por entre o ar nocturno suave e quente. O quanto parece aborrecida a nossa existência agora...
Ainda te lembras do quanto quis ficar contigo?
Ainda te lembras do amor que senti perdido?
Ainda te lembras de mim????
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Não me ralo
Vimo-nos por baixo das luzes artificiais de néon
Encontrámo-nos no meio dos fumos do salão
Mas nunca nos conhecemos verdadeiramente...
Não me ralo se vais...
Não me ralo se ficas...
A única coisa que sei
é que fico aqui deitado
neste quarto escuro
à espera de algo que nunca hei-de sentir.
Eu devia ter adivinhado
que me sentia demasiado perdido quando estava contigo
mas estava a procurar sossego no conforto dos teus braços.
Eu devia ter descoberto
que estava demasiado envolvido em ti
mas agora estou a afogar-me sem saída à vista.
Não me ralo se ficas...
Não me ralo se vais...
A única coisa que sei
é que fico aqui a olhar
para esta parede vazia
à espera que me mostres o caminho para a porta.
Sou um homem cego na escuridão
sem saber qual a diferença entre estar contigo ou sozinho
mas aquilo que sei
é que não me ralo
porque o contrário de amor não é ódio
É...
indiferença.
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Suicida-me
Traição
e todas as vozes me fazem triste
e todos os pensamentos me fazem mal
Traição
meu corpo gela no calor do dia
deixando minha alma em brasa no escuro da noite
Nunca terei uma vida diferente
Nunca terei um caminho diferente
Mas sei que continuarei a viver
Quero fugir do carreiro
Quero fugir da prisão
Suicida-me
Mas continuarei aqui
enquanto tu aqui estiveres
Sou aquele que vês
embora não seja quem queiras
Traição...
Meu caminho está nesta linha
Minha vida está protegida na tua mão
Deixa-me fugir
Suicida-me
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