Horas mortas
Refugio-me nos credos de outrora,
Fugindo ao presente que me persegue
Repetindo gestos, retomando acções
As horas mortas, As horas tristes
E no amanhã que se avizinha
Fascinam-me os mistérios
Do tempo que já passou
As horas mortas, As horas tristes
E no exercício da palavra esquecida
Encontro em mim o que já fui
O que sou e o que procuro ser
As horas mortas, As horas tristes
E neste tempo tão gasto
Pleno de escuro e de medo
O passo em frente é sempre o errado
As horas mortas, As horas tristes
E não há sentido
E não há razão
Encerrado
N’As horas mortas, N’As horas tristes
tictactictactictactictactictactictactictacEtiquetas: Stardust
Construí esta fantasia que alimentas devagar, abrindo em mim abismos de solidão intercalados… És tu, eu sei, naquela música, naquele gesto… oiço os tons preguiçosos da tua voz nos monólogos dos outros… estou perdida no mundo, tentando seguir o percurso dos teus passos… abres-me o peito e agarras-me o coração… sinto-o pulsar nas tuas mãos e entrego-me palpitante e destemida a um destino trágico… és tu, sempre tu, só tu…Etiquetas: Stardust
E é na ontologia deste amor
Que me descubro
Fragmentada, dividida
Pela mão de outro
E no frémito das horas
Sinto o toque da saudade,
Que crava no meu rosto
A métafora do que és
Encarnada no que vivo
E nas palavras que talhaste
no meu corpo,
A epopeia de um amor clandestinoEtiquetas: Stardust
“E o medo de que a vida seja isto:
um hábito quebrado que se não reata,
senão noutros lugares que não conheço”
Jorge de Sena
Encontrar-nos-emos noutros lugares,
Estranhos e novos
Plenos de sentido
Num outro tempo,
Em que o momento é o certo
À espera de ser vivido
Encontrar-nos-emos noutros lugares,
Em que o hoje é diferente
E as distâncias são as mesmas
E a comunhão se faz sentir
E o olhar finalmente
se encontra
Encontrar-nos-emos noutros lugares
Já que separados,
Só resta a esperança
Que esta rotina rompida
Toque o espírito
E nos faça crer
Encontrar-nos-emos noutros lugares
Convictos que o destino
Que actuou assim,
Firme no seu propósito,
O fez porque hoje não teria sentido
O que amanhã fará
Encontrar-nos-emos...
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Samhain
Nesta noite da morte, a vida vibra
Palpitante e ébria
Imersa na sua própria essência
A roda gira, e uma vez mais
O ciclo perdura
Nada é estanque e imóvel
E na noite da morte
Os que foram, voltam
Para serem celebrados
Para serem perpetuados
E na roda da vida,
E da morte
Nesta noite
As vozes erguem-se
A luz estremece com a brisa
Os fumos esvaem-se
E em comunhão plena
A morte, a vida
Num ciclo eterno
Coincidem
Na noite escura
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Posso sentir o vento que sopra lá fora
As árvores estremecem
Amarguradas,
Presas na imobilidade
Eu também estremeço,
E a prisão em que me encerras
Pior que uma raiz presa no solo
Leva-me a vida e a alma
Posso sentir o frio que esta noite de Inverno traz
Um frio cortante
Uma lâmina, uma navalha
Que marca os seres
Com traços sanguinolentos
E assim, sou eu
Marcado, traçado
Pelas tuas mãos
E no escuro,
Choro e sussurro sozinho
Pois as dores que me infliges
E o cárcere em que me fechas
Não são mais que belas quimeras
Ao imaginar que te perdes
Um dia
Para mim...
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Photomaton
Encerro a graciosidade do gesto com um toque, e de repente a intemporalidade pertence-me... sou eu o dono do momento, aquele que já se encontra perdido. E os dias passam, e o tempo avança, e eu, ladrão das horas, capturo os gestos e as frases e os sorrisos que se tornam meus. E todos os que se cruzam com o meu gesto, pertencem-me, imobilizando a sua essência numa forma imperceptível ao mundo e ao tempo. E eu, possuidor das memórias, revejo as que não tive, possuindo as vidas que não vivi, saboreando esses escassos instantes capturados como se fossem meus.
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As minhas palavras
Na dor da ausência, encontro as palavras, as formas que, encerram os sentidos. E é nestas palavras, repletas, que desvendo o meu ser. Só na sua perfeição física me encontro, e me perco, na plenitude dos sons talhados, das palavras que ficaram por proferir. Por isso escrevo, e exponho as mágoas e os desejos, os que ficaram por concretizar no ontem perdido. E na frugalidade das horas, estes tomam figura, tornando real o gesto nunca traçado. E o tempo descerra-se, assim devagar, e a ilusão de realidade que me encerra, vai tornando existentes estas palavras que aguardo.
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Tudo
Estou aqui sozinha, desolada. Devolvo-te as palavras e o tempo. Devolvo-te o gesto que não traçaste, a palavra que não susurraste. Devolvo-te o fantasma do teu amor, o bocadinho de ser que por engano partilhaste comigo. Leva tudo, não deixes nada. Eu continuo sozinha, sem que ilusão nenhuma me acompanhe, mas o amor não se faz de empréstimos, e eu não quero o que não me pertence. Leva tudo, não deixes nada.
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Permaneço
Choro ao longe, distante do calor da alma. O fulgor dos dias passou e eu permaneci. Estagnei neste mundo gelado, onde só encontro dor e desespero. Eras o meu raio de luz, mas tu também partiste. E agora, sem esperança, sem sonhos, permaneço. A morte parece ser a solução, mas até ela se replete de um manto de força que eu não tenho.
Ainda parece ontem o dia em que te foste, e já faz tanto tempo... Sei que o meu último sopro é para ti, na tentativa vã de te encontrar. À muito que ouvi os teus passos, e esses foram só para partir. Não te censuro, nunca. Compreendo a tua necessidade de um amor mais límpido, não revestido desta escuridão que me assola. Se tivesses ficado, estavas destruído, e tal, eu não suportaria, e a dor seria maior, e o desepero mais profundo, mais negro. Continuo a chamar por ti, tenho que continuar... Os meus demónios consomem-me e a clareza da tua miragem é a razão do meu continuar. A morte parece tão longe, sei que não posso chamá-la, tenho que expiar todo este mal que me assola, e partir não aplacaria quem procura a vingança. Permaneço, qual figura trágica da ópera, sabendo qual o meu destino, caminhando para ele lentamente. Escrevo estas palavras na esperança que um dia as leias e me perdoes. O amor não foi suficiente, nunca é suficiente, mas levo comigo, neste sargaço a que chamo alma, um résquio do teu amor, e continuo, sabendo que te encontrei, e que te amei.
Continuo nas sombras, tal não é a ironia do destino, tu que resplandeces luz, e que por momentos me inebriaste. As minhas pegadas são sangue e lágrimas, não pelo que tenho que cumprir, mas pela dor que te causei. Desejo tanto que sejas feliz, que a minha presença não tenha contaminado a limpidez do teu riso, e que eu seja apenas um fantasma de outra era. Amei-te tanto, amo-te tanto. Espero que um dia alguém te susurre aos ouvidos as minhas hereges palavras, profanas no teu resplendor. Espero não ter imaculado os teus dias, perdoa-me se o fiz.
Vou continuar o meu choro, qual hárpia lamentosa, e o meu percurso, e cumprir o meu destino. As sombras e os demónios acompanham-me, e entre eles antevejo o traço límpido do teu sorriso. Continuo, assim, contigo.
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