Quinta-feira, Outubro 22, 2009

O Basilisco

Erguendo-se da água escura,
O Basilisco abandona o seu abrigo,
Com os seus olhos que inspiram loucura,
Tudo o que respira está em perigo.


Abrindo as asas sobe no ar,
Espalhando pelos campos o terror,
Voa sob os raios de luar,
Enchendo quem o contempla de torpor.


Misto de morcego e serpente,
Corpo de galo e de dragão,
Aterroriza fraca e forte gente,
Matando tudo o que se atravessa na visão.


Com o seu olhar venenoso,
Transforma em cinzas quem o vislumbra…
Com o seu hálito sulfuroso,
Sufoca o incauto na penumbra…


Este monstro, poucos o sabem deter…
Não com o odor de doninha nem canto de galo,
Pois apenas o seu reflexo o consegue abater,
Obrigando as trevas a recolher o seu vassalo.


E assim todas as longas noites brumosas,
O Basilisco atravessa o firmamento,
Aterrorizando as pessoas receosas,
Para por fim regressar ao seu acolhimento.


[Mergulhando na água escura,
O Basilisco regressa ao seu abrigo,
A uns, os seus olhos lançaram na loucura,
Aos outros, o medo do regresso do perigo.]

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Segunda-feira, Junho 08, 2009

Ama-me esta noite,
Como se da última se tratasse…
Beija-me os lábios,
Como num beijo de despedida…
Toca-me ternamente o corpo,
Como num êxtase final de paixão…
Despenteia-me o cabelo curto,
Como num adeus carinhoso…
Sorri o sorriso pelo qual me apaixonei,
Na primeira, segunda, última vez que te olhei…

Ama-me esta noite e sê minha,
Pois eu,
Sou teu.

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Quarta-feira, Abril 15, 2009

Suores frios acordam-ne na noite,
Despertando-me de um sonho mau...
Olhando o vazio na penumbra,
Visões nebulosas retornam à minha mente.

Recordo imagens em que voltavas a fugir-me
Uma vez mais, sem sentido, sem motivo...
Recordo palavras mudas dolorosas,
Uma vez mais, tão étereas quanto reais.

Tremendo, estendo o braço na tua direcção
Esquecendo, confuso, como está vazio.
Ignorando as cicatrizes que teimam em abrir
Abraço a tua almofada fria, suspirando...

[Adormeço,
embalado pela recordação do teu perfume,
que me traz um breve sono imaculado]

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Segunda-feira, Dezembro 01, 2008

Breves momentos

O calor reconfortante da alegria jovial ilumina,
Ainda que por breves momentos,
Um fim de tarde melancólico…

O pôr-do-sol sempre belo numa perspectiva especial ilumina,
Ainda que por breves momentos,
A monotonia de uma viagem…

Um sorriso contagiante e inesperado provoca,
Ainda que por breves momentos,
Um sorriso tão reflexo como sentido…

A visão de um beijo pleno de amor inocente relembra,
Ainda que por breves momentos,
Um beijo há muito dado…

Um momento de prazer recorrente proporciona,
Ainda que por breves momentos,
Uma doce abstracção da realidade…

[Breves momentos que, na sua efémera existência,
Quebram a banalidade e a tristeza de um trajecto rotineiro]

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Domingo, Novembro 30, 2008

Malas que viajam

Um balcão sempre pronto a servir,
A rapariga do check in algo abstraída
Que recebe, pesa, rotula e faz seguir
A malona, fechada, mas quase descosida!

O avião que descola e transporta
O passageiro descontraído e animado…
A ele, nada mais importa
Que chegar, inteiro, ao destino assinalado.

Mas se para o passageiro a viagem é tranquila,
No porão, a história é bem diferente…
A mala que devia seguir, descarrila
Num comboio, transviada para o oriente!

A samsonite metalizada que sai amolgada,
E a necessaire que não acaba a viagem
Porque a equipa de terra está paralisada.
Ahhhhhh, lá se foi a minha bagagem!!!

Malas que acabam perdidas,
Malas que viajam sem destino,
Malas que acabam remexidas,
Safa, mas que desatino!!!

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Quinta-feira, Agosto 28, 2008

Ombro

No frio do amanhecer
Uma insónia te domina.
Algo te faz tremer
Assustada, como uma menina.
[Sossega, meu amor…

Um suspiro leve e alterado
Que me desperta.
Um murmúrio baixo e sobressaltado
Que me aperta.
[Aproxima-te, meu amor…

Aconchega-te no meu ombro
Enquanto te beijo o rosto.
Esquece esse teu assombro
Que o sol ainda está posto.
[Dorme, meu amor…

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Quarta-feira, Maio 03, 2006

Cansado…
Cansado de lutar….
Cansado de ter de me erguer quando apenas me quero deitar…
Cansado de sorrir quando apenas quero chorar… cansado…

Cansado…
Cansado de te perder todos os dias, quando já te perdi há muito…
Cansado de ouvir o que não quero, ainda que verdades… cansado…

Cansado…
Cansado de não me encontrar, mesmo não estando perdido…
Cansado de ter de seguir, quando não vejo o caminho… cansado…

Cansado…
Cansado de sofrer, de não te ter, cansado de te procurar, de não te encontrar, cansado de mim, cansado de ti… cansado…
[de te amar

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Quinta-feira, Fevereiro 09, 2006

Confuso

Lábios frios que me aquecem
No gelo do meu descanso...
Desperto, e os meus sonhos arrefecem...
Um abismo... Será que me lanço?

Das cinzas surge um ser...
Uma fénix renascida?
Ou uma alma perdida?
Quem renasce primeiro tem que perecer...

Um destino outrora límpido
Agora, um charco difuso...
Quando já tudo me parece insípido
Lamento e choro, confuso...

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Domingo, Janeiro 29, 2006

Metáforas dos meus sentimentos

A água corre rápida, devastada, triste
Não pode ser travada, segue o seu rumo

Sempre... sempre... sempre...

Um ego que se julga um lobo
E no fim se revela um bezerro
Uma fogueira de emoções que se acende
No reconhecimento de um erro
Mesmo quando não se o pretende...

Uma barragem que devia conter um rio
E que deixa passar uma torrente...
Nas águas, o reflexo da luz do passado
É quebrado pela escuridão do presente.
Força esgotada, rosto cansado...

Uma luta que a razão travou, incessante
Com um confuso e trémulo coração
Uma batalha épica, longa, intolerante
Que acaba num crepúsculo de emoção:
Mesmo vencendo a batalha, perdeu-se a guerra...

Tudo metáforas, simples metáforas
Do que foi,
Do que já não é,
E do que ficará para todo o sempre
[Ausente

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Segunda-feira, Dezembro 26, 2005

Espelho

Espelho que tudo vês
Sem julgar, sem decidir...
Diz-me, mostra-me a razão
Que me levou a agir, reagir
E a escurecer meu coração?

Espelho que tudo mostras
Sem distorcer, sem ajuizar...
Diz-me o motivo, o sentido
Para quê vir, se não é para ficar
E aqui me deixar de rastos, vencido?

Espelho que tudo devolves
Sem modificar, sem aquecer...
Diz-me, se reflectes a luz e a claridade
Porque não iluminas o meu ser
E me devolves um pouco de felicidade?

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Domingo, Novembro 27, 2005

Diário de um homem morto - Desejo

Era um pouco triste ao que tinha descido. Especado, à chuva, em frente à porta do bar, hesitava. Tinha sido um colega do escritório, a recomenda-lo. “É o sítio ideal para o engate, todos sabem ao que vão! Já lá fui diversas vezes, e nunca saí sozinho!!”, dissera. Durante alguns dias recusei-me, indignado, a aceitar a sugestão. Mas ultimamente o desejo tinha-me corroído a um ponto quase insustentável, desgastando-me, e quanto mais lutava para resistir, mais cedia terreno nessa luta. Até que uma sexta feira, ao acordar, a batalha estava definitivamente perdida. “Hoje depois do jantar vou lá. Um copo nunca fez mal a ninguém”, pensei, tentando desculpar a minha fraqueza. Suspirei, mas não vacilando, entrei.
Á primeira vista o bar parecia-se com qualquer outro. Uma música ambiente bastante agradável, uma decoração pós-moderna não muito agressiva, poltronas em tons avermelhado-escuro, com bastantes mesitas de apoio, e 2 juke-box em cada uma das duas divisões, que ainda funcionavam mesmo com moedas. Estava bastante cheio, e alguns grupinhos, sobretudo pares, bem como pessoas aparentemente sozinhas, bebiam ou dançavam. Dirigi-me timidamente ao balcão, e sentei-me num dos bancos altos metálicos, com apoio de pés. Com uma tentativa de aceno decidido chamei a atenção do barman, que se aproximou.
- Hum... um Jack Daniels com gelo por favor – pedi
- É para já! – disse, agarrando quase imediatamente com as suas mãos treinadas a garrafa laranja, servindo-me em menos de um minuto a minha bebida – Aqui está.
Dei alguns goles na bebida, sentindo o seu calor dentro de mim. Fui observando o movimento, ambientando-me cada vez mais ao bar à medida que pedia mais um copo. Não estava habituado a beber, e notei-o quando uma mulher se sentou num dos extremos do balcão. Eu, geralmente tímido, comecei a fixar o olhar na sua direcção. Uma figura esguia, de cabelo ruivo e curto, olhos grandes pintados com sombras negras, era o tipo de mulher que despertava em mim uma atração quase instantânea. Pediu também uma bebida, e ao fim de pouco tempo reparou que eu a observava. Durante alguns momentos os nossos olhares foram-se encontrando, até que uma sensação mútua de desejo me fez avançar. Fechei os olhos, acabando de um golo com o uísque e preparando-me para levantar. Quando os abri, verifiquei que ela se tinha antecipado, estando já ao meu lado, em pé.
- Posso? – perguntou-me, fazendo o gesto de se sentar no banco vazio a meu lado, ao que eu anuí imediatamente. Conversámos, e a imagem do seu corpo foi enchendo a minha mente com idéias nascidas do puro desejo. Comecei a tocá-la ocasionalmente, por entre gestos, na perna ou no braço, e notei que cada vez que o fazia ela parecia estremecer ligeiramente. Uma hora volvida, completamente enlevado pela sua aura provocante, decidi arriscar.
- Estava a apetecer-me uma bebida num local mais... íntimo. Que achas? – o meu coração batia descontroladamente, mas não acalmou com a sua resposta, oferecendo a sua casa para essa “bebida” íntima. Saímos os dois, deixando para trás os rituais de acasalamento modernos que se davam pelo bar. Seguimos no carro dela, um Colt vermelho, e meia dúzia de quilómetros mais à frente, parámos. O desejo entre ambos não parava de aumentar, e quase corremos pelas escadas cima até ao 3º andar. Num rompante, abrimos a porta, e ela quase me arrancou a roupa. Beijámo-nos, e os seus lábios pareciam fogo. As minhas mãos começaram a percorrer-lhe o corpo, e quando comecei acariciar-lhe o peito, ela afastou-me, e começou lentamente a despir-se na penumbra da sala. Peça a peça, a sua pele branca foi surgindo, até que, completamente nua, se virou e foi para o quarto. Eu segui-a, despindo-me, e quando entrei ela estava perto da cama, a personificação da tentação em frente dos meus olhos. Agarrei-a, beijei-a intensamente, e empurrei-a com alguma brusquidão para a cama.
Peguei firmemente na sua perna, e comecei a mordiscá-la subindo pouco a pouco, cada vez com mais força Ela estremecia. Enquanto a beijava entre as coxas, não se controlava, agarrando-me no cabelo e gemendo de prazer. Um fogo interior consumia-me, e eu tratava de o tentar apagar, alimentando-me insanamente com o seu corpo. Peguei no pescoço bem delineado, e virei-a contra a parede, possuindo-a com tanto ardor como violência. Ela gritava bem alto, numa mescla de êxtase e dor. O seu corpo suado reflectia a pouca luz existente enquanto eu o percorria, uma e outra vez, à medida que a minha paixão hipnotizante se ia consumindo, lentamente. A sua respiração alternava entre um arfar rouco e um gemer doloroso, sentindo-me cada vez que a tinha como se fosse uma primeira vez, e não como mais uma, numa espiral que parecia não ter fim.
Extenuados, finalmente voltámos a cair na cama. Fumei um cigarro, clichê recorrente, e tentei acalmar a pulsação. Sentia-me como um viajante que, a meio de uma travessia no deserto, alcança um oásis e se satisfaz impetuosamente, sabendo que ainda falta muito mais areia e sol para acabar a viagem. Ela estava deitada de lado, e o cansaço tinha levado a melhor, visto já dormir profundamente. Acabei com longas baforadas o calmante, e levantei-me, ainda nu. Dirigi-me à janela, e enquanto olhava para a rua, ouvi barulho na outra divisão. Virei-me, e a porta abriu. Um homem furioso que eu reconheci estava pregado junto à entrada do quarto. Desatou a berrar, e a minha companheira acordou, primeiro surpresa, depois em pânico, e começou a gaguejar que era suposto ele estar no Porto. Atónito, não queria acreditar que tinha acabado de ter relações com a mulher do amigo que me tinha aconselhado o maldito bar!
Completamente tresloucado, o marido ultrajado saiu por breves momentos, deixando-me a olhar vitrificado para a mulher chorosa, na cama. O desejo que tinha sentido por ela há umas horas tinha-se convertido em repulsa. Ele voltou com uma faca na mão, decidido a acabar comigo e a recuperar a sua honra. Saltou para cima de mim, e rebolámos no chão, lutando pela vida. Consegui segurar-lhe a mão, e torcendo-a fiz com que a faca caísse. Esmurrei-o violentamente, até que ele se esquivou, ensaguentado, e se levantou. Rapidamente mandou-me um pontapé no queixo, e, ao cair junto da faca, peguei nela e num ápice apunhalei-o. O corpo escorregou para o chão, enquanto me sentava, arfando, sabendo que tinha morto para não o ser eu. Subitamente um berro rasgou novamente a escuridão do quarto, vindo com ele uma pancada forte metálica na minha nuca, a primeira das muitas que me reduziram o crânio a uma massa informe. A mulher vingara-se do assassino do marido.

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Domingo, Outubro 02, 2005

Diário de um homem morto - Uma última bebida

Ainda antes do cano frio se encostar à minha nuca já eu adivinhara a sua presença. Calmamente dei uma última baforada no cigarro, expelindo languidamente o fumo numa nuvem cinzenta que se desvaneceu no ar. Atirei a beata para longe.
- Sempre me encontraste... não que alguma vez tenha duvidado disso! – disse, cruzando as pernas – Sempre o soube, apenas esperei que fosse mais... tarde - A sombra respondeu, ameaçadoramente, com um clique da arma.
- Calma, calma, não é preciso ter pressa, o destino espera sempre mais um pouco.Que ameaça posso eu ser para ti? – disse, abanando a cabeça e sentindo ainda a impressão metálica redonda na cabeça - Porque não uma última bebida, entre dois velhos... conhecidos? – propus. Senti o seu hesitar, um instante que reflectia uma breve, mas intensa, decisão. Finalmente, a pressão aligeirou-se e a arma foi baixa, com um clique inverso ao anterior.

- Óptimo. Penso ainda me lembrar da tua bebida preferida... Gin com muito gelo e um pouco de sal, certo? – o vulto aquiesceu com um ligeiro “hum” nervoso – Uma bebida tão fora do comum não se esquece facilmente. Para mim apenas o velho e vulgar “escocês” com duas pedras. – disse, permitindo-me um sorriso enquanto me dirigia para o bar da sala, onde comecei habilmente a preparar as bebidas. O vulto parecia permanecer imóvel nas sombras. Acabei, e com uma mão estendi-lhe o copo, ao mesmo tempo em que dava um golo no meu e me encostava no sofá, em pé.

- Então, que tal? Não está bom? – perguntei, observando a hesitação do meu oponente, que observava o copo sem se decidir a leva-lo à boca.
- Bebe tu primeiro – disse ela, ouvindo-se pela primeira vez no escritório a sua voz melódica, mas rouca.
- Ah, desconfiada como sempre. Pensas que deitei alguma coisa na bebida? – atirei notoriamente surpreendido – Tudo bem, eu provo primeiro... em situações normais esse sal podia fazer-me mal à tensão, mas na presente situação não me parece que o meu médico se vá aborrecer – dei um gole, soltando antes uma sonora gargalhada, e estendi novamente o copo à minha assassina, depois de alguns segundos – Como vês, ainda não estrebucho. Força, bebe à vontade. – e ela bebeu, agora mais descansada, mas sempre com a mão tensa sobre a arma.

- Sabes que esta bebida apenas te deu mais uns breves batimentos desse reles coração, não sabes? – disse ela. Com um vestido longo e preto, os seus olhos faiscavam ódio – O que ansiei por este momento!!
- Também eu ansiei... por te ver. Mesmo sabendo que isso significaria a minha morte. Sempre foste tudo para mim... – a minha adversária pareceu tremer - Mas a vingança e o ciúme falaram mais alto na altura. Ele roubou-te de mim! Eras minha, não tinha o direito! – o longo e delgado braço começou, tremendo, a levantar a arma – E que gozo me deu matá-lo! Guinchou e implorou, enquanto eu punha dolorosamente fim à sua vida! Ah! – a arma apontava agora na minha direcção, pronta a atirar, mas tremia violentamente. – Não te merecia, não era digno de te tocar nem com um dedo!! – O braço parou repentinamente, tal como o corpo, que caiu redondo no chão, completamente hirto. Apenas os seus olhos brilhantes se mexiam em pânico. Aproximei-me.

- Não tenhas medo, é apenas veneno de víbora australiana. Um paralisante poderoso, mortal apenas se eu não te der o antídoto – expliquei, cuidadosamente, fazendo uma festa na sua cabeça, como faria a uma menina. Os seus olhos espantados olhavam para o copo tombado – Sabes, apenas um gole de veneno não é suficiente para alguém que foi ganhando anticorpos como eu através de pequenas doses diárias. – tirei uma pequena seringa do bolso, e injectei o seu conteúdo no braço da mulher que estava estendida no chão. – Pronto, um antivírus produzido por anticorpos de cão. O melhor amigo do homem em todo o seu esplendor – ri-me, agora nervosamente - Daqui a uma hora estás como nova. Achas realmente que eu alguma vez seria capaz de matar a minha própria... filha? – uma lágrima correu pela minha face, enquanto dava um último, terno e muito esperado beijo na sua face

– Poupo-te o trabalho, pela segunda vez. Ninguém vai ouvir nada, o edifício está vazio. As câmaras estão desligadas. Quando te conseguires mexer levanta-te, limpa o copo e sai. – disse, enquanto pegava na arma, ainda presa na mão da minha filha. Levantei-me, limpei com um lenço a pistola enquanto me dirigia para o outro lado do escritório, e fiquei a olha-la, melancolicamente – O que fiz foi por amor... Tal como agora – Com um gesto brusco encostei o cano frio na testa e disparei.

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Domingo, Junho 05, 2005

Ofegante...
O meu olhar fazendo-te vibrar
A respiração ruidosa, galopante
No meu toque o teu despertar
Ergues-te, inebriada e cambaleante
Aproximo-me...

Segues-me...
Por entre uma ténue luz prateada
Encontrares os lábios que te enlevam
E afastam do teu coração, a geada
Aqueço-te...

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Segunda-feira, Fevereiro 21, 2005

Revolução

Ouçam amigos, ouçam
O que vos venho anunciar
Tremam, amedrontem-se, mas não esqueçam
Que o mais ansiado dos meus desejos
Se está prestes a realizar...

Ouçam amigos, ouçam
Pois aproxima-se não a passo, mas a trote
A revolução que tudo engolirá!
Está a chegar, pulsante, vibrante!
E debaixo de uma turba raivosa
Os alicerces da sociedade ruirão,
A terra firme e escura virará céu,
E o fogo crepitante tudo consumirá
Numa labareda quente, eterna,
E penitenciante...

Ouçam amigos, ouçam
Que o trovador do que virá
O bardo do apocalipse
O arauto dos novos tempos
Vos avisa

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Terça-feira, Dezembro 21, 2004

Desejo...

Paixão arrebatadora e quente
Que incontrolável me invade
Torna o meu olhar ardente
E cheio de desejo, beijando-te
Com insana vontade...

Mãos trémulas e desejosas
Percorrem teu corpo tentador
Determinadas, embora ansiosas
Por uma carícia ardente...
Em mim, todo o teu calor!

Os teus beijos me envolvem
Lábios húmidos, insaciáveis
Que ao paraíso me devolvem...
Horas parecendo segundos
Cheios de prazeres inigualáveis...

Dois corpos que se abraçam
Unidos num ritual de amor
Dois pulsares que se entrelaçam
Num nó, momentaneamente, eterno...
Clímax de prazer entontecedor!

Sinto-te, sentes-me...
Dois seres, sentindo como um só...

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Terça-feira, Julho 06, 2004

Sangue

Doce e metálico sabor
Invadindo a minha boca
Travo quente e viciante
Dono de um odor enebriante...

Dor sentida mas anestesiada
De um golpe, mordo vorazmente
Uma, duas, mais uma vez
E sorvo o abundante líquido...

Pulsante, bombeado sem parar
Os meus lábios beijando
O prazer que provém da vida
lentamente terminando...

Raiados os meus olhos
Do mesmo que me mata a sede
Prazer, comunhão de dor
Orgia escarlate, festim de morte...

Vítima quase inerte, lívida...
Saciado, ergo-me e concedo
A misericórdia (talvez) divina
Um golpe, um gemido, escuridão...

Energia de Vida roubada
Agora, sendo minha...

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Quarta-feira, Abril 07, 2004

Concha

Sorriso que esconde a inveja
Gargalhada venenosa e fingida
Ser rastejante, insecto pequeno e viscoso
Sob uma concha se camufla
Aos olhos do mundo...

Pela frente solícito, bondoso
Por trás uma só faca não chega
Para a intriga e a traição consumar...
Seguro de si com a sua tenaz
Todos pensa reter e usar...

Felicidade de outros, não a sua
Impele-o a agir, a denegrir, a manipular
A tecer as suas teias envolventes
Brilhantes e frias como diamantes
E tão afiadas como um...

O dia virá em que a concha se partirá
E a verdadeira natureza desse ser se revelará
Patético, invejoso, falso, e só...
E como a um insecto será muito fácil
Ignorar, ou talvez mesmo, esmagar...

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Quarta-feira, Fevereiro 11, 2004

Quem és tu?
Leio-to nos olhos receosos...
Ao que vens?
Murmuram teus lábios mudos...
Não te aproximes!
Oscila o teu corpo frio...

Tu conheces-me!
Diz-te o meu olhar reconfortante...
Sabes o que quero!
Confessam-te os meus lábios vibrantes...
Não posso evitá-lo!
Envolve-te o meu corpo quente...

Aceita, dá-me todo o teu amor...
Doce e enebriante mel...

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Quinta-feira, Janeiro 01, 2004

Frio

Frio, muito Frio, cortante
Invade-me, sinto-o, gelo...
Puxo os lençóis, tiritante
Enredando-me como um novelo...

Deliro, e a visão turva alastra...
Mais do que um pensamento
Chega, e logo se afasta...
Não me dando qualquer alento...

Lancinado, caio prostrado
Derrubado pelo Frio cortante...
Loucura....

Dor agora constante, latente
Alucinado com imagens, confusão...
Cego, mas ainda crente
Que o sol volte, que me aqueça
[o coração...

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Domingo, Novembro 30, 2003

Banal

Do pequeno pedestral onde vivia
O menino que amava, caiu
A alegria e amor que sentia
Não amenizou a dor que sentiu...

Abanando a sua cabeça, olhou...
E viu tristeza e decepção
Onde devia haver amor, e chorou...
Destroçado ficou o seu coração

Ergueu-se e andou, tremendo
Cambaleando percebeu, gemendo
Que o que ele julgava especial
Não era afinal, mais que banal...

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Domingo, Outubro 26, 2003

Lágrimas

Lágrimas caídas
Do teu rosto doce e terno
Reveladas tristezas reprimidas
Da alma fria de inverno...

Um abraço forte
Tento-te confortar...
Palavras quentes
Que te tentam alegrar...

Uma noite de magia
Que vai da alegria à dor
E regressa à alegria
Para acabar no teu calor...

Precisas de mim
Tanto como preciso de ti
Amor profundo, sem fim
Em teu ser, renasci...

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Segunda-feira, Outubro 13, 2003

Descanso

Apertar os últimos botões da camisa
Vestir o casaco preto elegante
Calçar os sapatos reluzentes
E atar com força os atacadores...

Contemplar o espelho na parede
Face estranha, pálida, fria...
Olhos raiados de sangue, mas calmos
Pentear-me com a escova já gasta...

Ataque de tosse, garganta seca
Talvez um último copo de água
Para saciar a única necessidade saciável...
Alívio momentâneo que passa depressa...

Assinar a carta com letra bonita
Não borrar a última assinatura
Com a lágrima não evitada que cai...
Chorar não ajuda, nunca ajudou...

Subir para a cadeira com cuidado
Arranjar a gravata com nó apertado
E prende-la bem alto e firme...
Respirar fundo, sentir a determinação...

Um pequeno salto em frente
Cadeira tombada para um lado
O mundo em suspenso, por um fio
No ar dançar aquecido pelo frio da morte...

Paz, finalmente,
Descanso, por fim...

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Segunda-feira, Setembro 15, 2003

Beijo

Lindo, meigo, terno...
Cheio de vida,
Sorridente quando me vê
Transbordando amor...
[O teu olhar...

Renascido quando te olhou
Pulsante de alegria
Deliciado com o teu ser
Vibrante, querendo amar-te...
[O meu olhar...

Doces e brilhantes
Mesmo na escuridão, tentadores...
Minha eterna perdição
Desejando apenas encontrar
[Os teus lábios...

Quentes, embora secos
Querendo amar-te, ansiosos
Por sentir num beijo
Todo teu amor...
[Os meus lábios

Juntos como um só
Fervilhando de prazer, paixão...
Dança eterna, divina
Num segundo, todo o tempo...
[O nosso beijo

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Domingo, Setembro 14, 2003

Marioneta

Marioneta. Como uma simples, rude e tosca marioneta de madeira, eis como me sinto. Preso por finos fios vulgares, estou ao sabor não do vento, mas da vontade de quem me usa, de quem me controla. De uma letargia aparente passo à actividade completa com uma pequeno gesto de mãos da minha dona. Não tenho sentir, não tenho imaginar, não tenho sorrir, tenho apenas uma máscara que provoca emoções diversas em quem comigo lida, tudo debaixo do jugo dela, sempre com um simples gesto de mãos, tão simples...
“Anda, dança, fala, para! Mexe, pula, rodopia, para!”
Faço tudo mas vejo-me na terceira pessoa, como se tivesse lá longe, bebedeira eterna em que não controlo o que faço... Não quero, tou farto! Não serei mais uma estúpida marioneta! Quero cortar os fios, quero libertar-me! E será só por mim e não por ela! As suas mãos não mais me irão dominar, nunca mais! Se a libertação significar a morte, morrerei, mas livre e eu próprio! Estúpido, rude, tosco, mas eu mesmo... livre...

- Mas quem cortou os fios ao xantocas? – disse em voz alta a Carlinha – Mãe, ó mãe,
estragaram-me a minha marioneta preferida! – gritou enquanto choramingava
- Deixa lá filha, a mãe depois compra uma mais bonita – consolou a menina a Dona Felismina entrando no quarto– essa também era tão velha e feia... dá-a ao cão que ele já roeu a última...

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