Terça-feira, Outubro 07, 2003

Aqui, ali, sem ser, sem ver, encontro a vida, perco o norte, finjo ser a lua, o sol. Desmaio nas lágrimas de mim, sem chorar, sorrindo, rindo, perdendo o medo, ganhando a sede, porque a alta noite tem estrelas que só se vêem de dia. Serei eu?, serás tu?, ou o Nós que está em mim, em ti, aqui, entre nós? Será o sangue, o suor, o cheiro deste amor, que se espalha, que corre, e cega a própria dor? Do beijo, do calor, do desejo, é aqui a fronteira, apagada, outrora iluminada, ultrapassada, conquistada. Ouve, canta, entra nesta dança, rodopia, movimenta, sem cessar. Morde, bebe, penetra até à última gota, e consome-a. Corta, fere, cura, leva tudo, dá o dobro, deixa a alma, e até o corpo. Rebenta, explode, não contenhas, chora, ri, sonha, flutua. Grita, rasga, vive, dentro de ti, dentro de mim, e voa. Acordaste, é real? Toca-o, está em ti, está em mim, está em Nós. Rouba a vida, dá-a à morte, aperta, sente, ama, é teu, sou tua, és nosso.

Etiquetas:

Sexta-feira, Setembro 19, 2003

Novelo da Vida

Desenrola este novelo.
Que vês? Para onde quer que olhes, só existe linha. Fios finos, redondos, brancos, por vezes frágeis, às vezes resistentes.
Continua a desenrolar.
Entendes este novelo? Consegues distinguir a primeira linha da última, aquela que já tocaste da que ainda não é tua? Que sabes tu desta linha? Que procuras neste novelo? As respostas? As dúvidas? As respostas das dúvidas ou as dúvidas das respostas? Responde! Não sabes? De que te serviu então desenrolar este novelo? Consegues distinguir o extremo primeiro do último? Consegues dizer quão fina é a linha, ou quão perfeito é o emaranhado em que te embrenhaste? Porque te empenhaste em desvendar tamanho novelo? Para alimentar a sanha do teu ego, a sede insaciável da tua presunção? Desiste. Este novelo, tal como muitos outros, não consegues tu desvendar. Que lucraste com teu vão e glorioso esforço? Nada, absolutamente nada.
E agora?
E agora?!
Volta a enrolar a linha. Forma de novo o novelo do qual partiste. És capaz? Não, nem isso consegues. O primeiro novelo era demasiado confuso, e este é agora absolutamente impenetrável. Deixaste as tuas mãos emaranhadas na trama desta linha. Olha bem para ti. Não consegues desprendê-las, pois não? Que restou de todo este ávido esforço? Tiraste dele algum proveito? Em ti não há senão desespero, confusão maior, insegurança, medo, muito medo... Mas a sede louca, desnorteada, de desenrolar quantos novelos te venham à mão não desapareceu, continua dentro de ti, murmurando, gritando, sem descanso, unindo o seu eco aos nossos ecos, até de avidez rebentares e de novo te emaranhares.
Nunca aprendes, pois não?

Etiquetas:

Terça-feira, Setembro 16, 2003

O Amor

O amor não é algo que se explica, é algo que se sente. É olhar, tocar em alguém e sentir o coração bater aceleradamente, contraindo e dilatando, tornando-se maior que o peito. É sentir o sangue quente correr loucamente no seu leito, em sobressaltos.
O amor representa a união de duas almas. Envolve confiança, amizade, carinho, compreensão.
Quando amamos verdadeiramente, vemos noutra pessoa a beleza que para outras é fealdade. Não me perguntem por que amo, eu não sei explicar. Só sei que este amor se manifesta dentro de mim como uma sensação de leveza, que me faz flutuar, um desejo incrível de gritar bem alto e dizer a toda a gente que gosto de ti.
Há na minha alma uma intensa luz branca, um estado de pureza e lucidez. O peito estala, o estômago comprime-se, os músculos retesam-se cada vez que penso em ti.
Um sentimento tão belo e, porém, a causa de enorme sofrimento.
Toda a alegria espontânea que este amor me dá vem, muitas vezes, acompanhada de dor. As ânsias, as desilusões, as preocupações surgem constantemente, sob a forma de uma lágrima, sob o nevoeiro do olhar, que paralisa o cérebro e os músculos. O desespero por alguém que hoje não me abraçou.
Mais do que um estado de espírito, o amor é uma forma de estar na vida. É o motivo pelo qual vale a pena estar aqui, é o elemento que impulsiona o meu viver. É aquilo que faz rir, chorar, ter um dia diferente todos os dias. Pelo amor, vale a pena esperar pelo amanhã.
O amor é aquele pozinho mágico que nos transforma a nós e aos nossos actos.
O amor é a química. Tu e eu somos os cientistas, os nossos corpos são o laboratório. Cada um dos nossos órgãos é o tubo de ensaio, onde misturamos a minha e a tua substância e obtemos uma reacção rápida e colorida.

Etiquetas: