Terça-feira, Dezembro 16, 2008

Erguendo as Velas Rumo ao Sol Poente

De repente uma voz ergueu-se acima de todas as outras. Cantava, mas não havia instrumentos e o som daquela voz aquecia a alma de todos. Cantava naquela língua rude e áspera de terras onde as noites duram dias e não há escravos nem senhores. Cantava, numa toada entristecida que alegrava. Cantava sozinha, mas rapidamente todos começaram a cantar com ela, e quando me apercebi também já eu gritava a plenos pulmões:


Os dias crescem
O calor aumenta
A comida falta
A fome aperta
Escravos morreram
Há gente que falta
Lenha escasseia
Na floresta farta.

Jovens enérgicos
Com ímpeto guerreiro
Cresceram no escuro
De que é o Inverno feito
Chegados ao calor
Que traz a Primavera
É vê-los com sede
De mulheres e de guerra.

Tapamos os buracos
Que têm os cascos
Pintamos os escudos
Afiamos o aço
Bebemos cerveja
A pensar em igrejas
Vêmo-las a elas
A tear nossas velas.

Os dias vão longos
E sem negros assombros
Monstros adormeceram
Velas se ergueram
Mulheres se amaram
Rapazes cresceram
Homens para a guerra
Nos barcos partirão.

Ninguém se despede
Nem chora nossa partida
Os ventos da fortuna
Levam-nos nesta nossa vida
Partimos de tarde
Chegaremos de dia
Terror transportamos
Na ponta dos nossos braços.

Ferro, fogo e destruição
Tudo levamos até outra nação
Lá não nos esperam
Não sabem ao que vamos
Agarrados aos remos
Navegamos em frente
Erguendo as velas
Rumo ao Sol Poente.

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7 Comentários:

Às 16/12/08 10:09 , Blogger alphatocopherol disse...

Experimentem uma coisa:

Agarrem nos versos e declamem fazendo uma separação a cada duas frases, sendo a segunda frase como uma resposta à primeira... Resulta quase na perfeição em sentido e maioritariamente bem em termos métricos :)

Não sei se o autor pensou nisso mas o resultado final resultou muito bem!

 
Às 16/12/08 19:03 , Blogger Chas. disse...

Bem conseguido.
Alphatocopherol, é bem lembrado... parece mesmo uma resposta ao primeiro.

 
Às 17/12/08 16:36 , Blogger R.B. NorTør disse...

A ideia base foi dar uma entoação musical, como digo no texto introdutório. De resto, este poema faz parte de uma projecto "maior" que tenho em mente, estando numa fase de desenvolvimento de personagens e história.

Infelizmente o meu projecto chocou num texto de um grande autor, já publicado, que apenas tive conhecimento posterior e que havia já escrito sobre a minha ideia original, pelo que estou a reconfigurar a história, mas deverei voltar aos épicos lá para 2009!

 
Às 17/12/08 17:05 , Blogger Chas. disse...

"Infelizmente o meu projecto chocou num texto de um grande autor, já publicado, que apenas tive conhecimento posterior e que havia já escrito sobre a minha ideia original.."

Agora deixaste-me curioso de tamanha coincidência.

 
Às 18/12/08 19:08 , Blogger R.B. NorTør disse...

Lá para Janeiro espero ter desenvolvimentos!

De resto o autor era o Bernard Cromwell, autor que aprecio bastante, mas estou a trabalhar (nas horas vagas pois claro) em modificar. Não será muito fugidio da minha ideia, mas será um regresso ao estilo dos "Contos do Exílio".

 
Às 06/01/09 15:05 , Anonymous João disse...

Muito bom, gostei bastante!

Fez-me imediatamente recordar os livros desse autor que referes, e que, sem ter ainda lido os comments, me veio à cabeça.

Quase se consegue sentir a água do mar a salgar a pele!!

 
Às 15/12/09 17:50 , Blogger Filipe disse...

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