Estrada de cinza (ou Alien)
Sentes um vazio de tudo na alma, se é que ainda tens alma… Tentas, por breves momentos seguir por essa estrada na tentativa desesperada de encontrar algo familiar… Sentes-te um estranho ao teu próprio corpo… Percorres as ruas desta cidade que não é tua, tens medo de continuar, principalmente por não saberes como vai reagir a mente, que já não é tua, quando se aperceber que, de facto, não existe nada familiar nesta cidade… Buscas no bolso interior do casaco uma qualquer agenda velha apenas para verificar que está cheia de nenhum compromisso… Tu és Ausência…
Sentes uma necessidade absurda de te sentir vivo, como se não bastassem as dores que afligem cada um dos teus miseráveis músculos… Encontras-te por fim na Porta do Desespero… Tal é o desespero, que apenas a semelhança de uma qualquer pedra da calçada seria o suficiente para te acalmar o espírito! Eu sei e Tu sabes… Tu és Raiva…
Por breves momentos julgas reconhecer um reflexo amarelado no chão de pedra… Como aqueles dos centros históricos de cidades muito antigas que nos levam a pensar que são os mesmos candeeiros de sempre a tentar iluminar as mesmas pedras… Eternas! Mas não é mais que um candeeiro velho em uma qualquer rua desta cidade que não reconheces… Tu és Necessidade…
Sentas-te num degrau de pedra com vista para um pequeno vale coberto de casas… Estás mais elevado que esse vale que se estende a teus pés fervilhando de energia e movimento por entre a “luz” do crepúsculo… Tens, durante breves momentos, a sensação de dominar o vale! Uma sensação que desperta mais uma vez aquele aperto no estômago, aquele grito da alma… Tu és Desilusão…
Atordoado pela descarga hormonal o teu corpo sucumbe nos degraus… O teu corpo repousa, no entanto, a tua mente voa, tentando reconstituir a viagem que te trouxe aqui… Vês claramente, o pôr-do-sol a reflectir-se nos campos verdes com animais e vinhas, também pequenas zonas de cultivo onde foste capaz de distinguir milho, arroz e centeio… Talvez também trigo… A tua lembrança traz também um belo rosto… Eras capaz de jurar estar mesmo agora a cheirar aquele mesmo perfume suave… A sentir aquelas pequenas maças de rosto na palma da tua mão… Beijar aqueles lábios de seda… Sabes que não o estás a fazer, e de certa forma sabes que não o voltarás a fazer… Há algo dentro de Ti que o afirma muito claramente! Sentes a vibração do comboio que desliza suave… Tu és Esquecimento…
Julgas ver por entre alguns edifícios mais baixos, uma grande igreja, ou catedral… Que pelos vistos aparece só quando lhe apetece… Umas vezes com uma iluminação quase mágica destacando enormes pinturas azuis e douradas… Outras sem qualquer tipo de iluminação como as ruínas de uma qualquer grande guerra… Segues em direcção à miragem, não por te ser familiar, mas por de certa forma, ser tão estranho que te faz sentir em casa… Sentes uma atracção inexplicável por esse pedaço de pedra… Indescritível… Tu és Esperança…
Conforme te aproximas reparas que é uma catedral real e que, de facto, algumas partes estão completamente destruídas sobrando apenas os enormes pilares e pequenos troços da parede… Enquanto outras mantêm um esplendor digno das melhores histórias de literatura fantástica, suplantando o que imaginas ser o esplendor máximo de qualquer dos Extintos Impérios Mágicos… As pinturas que, agora, reconheces como sendo, claramente, de lápis-lazúli e ouro estão intactas e com uma luminosidade incrível, própria diria eu, parecendo brilhar entre o nevoeiro que cobre a noite… Tu és Ilusão…
Etiquetas: APC
4 Comentários:
Excelente.
Faz-me lembrar todos os livros de Apocalipse e Magia reunidos num só texto.
Muito bom mesmo
"Tu és Elemental…"
Mas podias ser flamengo ou mozarella
:P
Excelente, muito bom mesmo :)
Eu gosto mais de Brie com presunto... hummm
;)
aj - vejo que afinal "o gato não te comeu a lingua"
alpha - eu avisei... hehehehe
Abraços
Gostei!
Fica por concluir: "Tu és..." sobrenatural, espiritual ou natural?
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