Aqui Jaz
“A fé é o instinto da acção.”
Fechou o livro, ainda, com esta frase na cabeça!
(“A fé é o instinto da acção.”)
Esta, repetiu-se vezes sem conta na sua cabeça!
(“A fé é o instinto da acção.”)
(“A fé é o instinto da acção.”)
(“A fé é o instinto da acção.”)
Na mesma cabeça por onde uma pequena gota escorria…
(Sangue? Suor? Lágrima?)
Ahhh… Bernardo, soubesses a razão que tinhas! – pensou, alto, mas pensou…
Deixou o livro escorregar lentamente pelas suas pernas, enquanto se entretinha com os seus pensamentos!
Imaginou a lapide e a sepultura… Não daquelas em mármore, mas sim daquelas em relva com um pequeno pedaço de granito em forma de escudo, como se vê nos filmes americanos…
(isolada no meio de nada, uma lápide jaz…)
Imaginou as letras cravadas na lápide:
Aqui jaz a minha alma
Eterna saudade
Curioso, pensou, já tinha ouvido falar de vida após a morte, mas geralmente é uma vida espiritual! O corpo morre, enquanto a alma (ou espírito) perdura… No seu caso é ao contrário!
(Como sempre)
Assassinou a sua própria alma! Deixou-a a esvair-se, não em sangue, mas em algo viscoso que não conseguiu identificar… E depois?… Depois enterrou-a! Com a frieza de um homem sem alma! Percebeu finalmente o verdadeiro significado dessa expressão!
(Homem sem alma)
Colocou a lápide fria sob a sepultura e nem uma lágrima verteu! Afinal os homens sem alma não conseguem chorar… Podia dizer-se que ficou triste com este facto… mas será que os homens sem alma podem ficar tristes?
(És um homem sem alma! – gritou um vulto)
Onde estão os sentimentos, no Ser ou na alma, ou é o Ser a sua própria alma?
Ficou um pouco a meditar sobre que sentimentos seriam permitidos a um homem sem alma… Pensou, mesmo, em perguntar a outro homem sem alma que sentimentos já tinha experimentado, mas depois lembrou-se que não conhecia nenhum… Imaginou que houvessem mais… Mas não o podia garantir!
(És um homem sem alma!)
(És um homem sem alma!)
(És um homem sem alma!)
Sentiu o coração bater forte, a respiração pesada, o suor a escorrer na sua face gelada e….
Despertou! Sobressaltado!
Recompôs-se e apanhou o livro do chão! Enquanto o levava para o arrumar no seu lugar, privilegiado, na estante… Pensou… É, de facto, curioso ter sonhado com o funeral da sua própria alma! Ele, que sempre quis ser cremado… Não gostava nada daquelas visitas deprimentes a cemitérios! Não queria que os seus netos o fossem visitar a um sítio daqueles… Preferia, com certeza, ser cremado… O fogo é místico…. Do fogo renasce a Fénix! E claro, que as suas cinzas fossem espalhadas numa bela montanha, ao sabor do vento e que voassem para onde quisessem… Até à mais bela nascente de água, até ao pico mais alto e o mais profundo dos vales! Que cai-se em árvores e que arbustos… e em animais que as transportariam, ainda, mais longe! Era libertador sonhar com esta vida após a morte!
E quando os seus netos o fossem visitar e vissem com os seus olhos aquela paisagem e perguntassem:
- Que bonito, pai, o que é?
A resposta do pai, seu filho, fosse:
-Isto, meus filhos, é o vosso avô!
(um homem sem alma)
Etiquetas: APC
2 Comentários:
Uma bonita reflexão... para meditar!
Tinhas bebido alguma chazinho daqueles?! Mas é uma reflexão interessante.
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