Segunda-feira, Agosto 28, 2006

Meia-noite

Meia-noite
Nem um som vem do passeio, meus passos batem contra a pedra sem se ouvirem
Paro por um instante, um segundo preso no relógio
A Lua suspende-se no candeeiro, imóvel, por braços que não consigo descortinar
Um sorriso afagando-me a cara dormente onde já não me lembro de sorrir
As folhas do Outono rodeiam-me os pés enquanto o vento faz sentir a sua presença
Meia-noite
Nos prédios só uma luz se vê
As pessoas entregues ao conforto dos lençois
Eu e a Lua, sós, a ver quem sorri menos
Memória
Quero viver outra vez
Viver o tempo em que era eu que controlava a minha vida
Quero poder viver a memória do teu sorriso
Quero poder tocar o teu sonho preso em mim
Meia-noite
Quero poder afastar o candeeiro onde a Lua se suspende
Quero tomá-la nos meus braços e oferecê-la a ti
Pedir o perdão com uma oferta que não poderás recusar
Memória
Onde terei de procurar uma nova vida
Onde não poderei desistir
Meia-noite e memória
A confusão dos meus pesadelos
O segundo que finalmente se liberta do relógio
Agora é tempo de continuar, que venha a madrugada, que a Lua sorria e que a memória caia do candeeiro

Sexta-feira, Agosto 18, 2006

Freepass to everywhere

Por muitos lugares onde vá, sempre te encontro. E nada é igual quando o mundo fica suspenso numa tarde de Verão a teu lado. Alentejo solto, bafejo quente a secar-nos a pele, a romper desejos e a traçar sonhos em corpos sem bússola. Hoje, para Sul? E, amanhã, depois?
Quero entrar no teu circo e equilibrar-me neste amor. Mergulhar de cabeça e afundar-me nas palmas das tuas mãos. Há-de queimar-te esta distância.
Não me olhes assim. Não sei o que dizer dos olhos que me apresentas. Tanta luz! Quase que não me deixas lugar para os sítios escuros onde me escondo de ti.
E já nem o silêncio disfarça cada centímetro teu a rasgar o regresso.
Parto antes. Uns minutos antes do fim do palco. Quanta doçura no teu sorriso. Até já...

Faço a cama e amanheço sem que tu sejas o centro do meu mundo.


Vanessa Pelerigo

Etiquetas: