Afreudite
Quantos dias tem o mundo,
Quanto tempo já sem fundo tem o meu amanhecer?
Quantas horas o verso é grito
E o desejo pássaro aflito onde o amor é só se ser?
Com que voz te brado ao céu e te falo de Afreudite
Que tudo isto é apenas saudaude.
Qual barco em qual cidade
Qual luz qual verdade,
Se te deixo aqui ficar
Sossegado, no meu peito, quase morto
À espera que os teus olhos sejam todo o Porto
Que me prende para me abraçar
Vanessa PelerigoEtiquetas: Vanessa Pelerigo
Contos do Exílio - O Regresso, parte V: O Confronto
O dia amanheceu claro. O sol brilhava por entre as ramagens e no ar pairava um aroma fresco a orvalho, apesar de a vegetação estar toda ela seca e a própria terra dura, de há tanto tempo não ver gota de água. Quando Aprendiza abriu os olhos, a primeira coisa que viu foi o enorme corvo que a olhava. Ficaram assim por uns instantes, a olharem-se olhos nos olhos, até que o enorme pássaro levantou vôo e veio pousar junto às cinzas fumegantes do que na véspera havia sido uma fogueira. Levantou-se e assim que olhou em seu redor viu o campo deserto, mas por entre as árvores corria um leve assobiar. Pegou na sua vara e dirigiu-se para a origem do som.
-Está-se a tornar um hábito andares sempre na defensiva! - ouviu o seu companheiro dizer-lhe quando chegou junto dele.
-Sintomas dos últimos tempos... - lamentou-se.
-Fazes bem, mas olha que isso de estares sempre tensa e retesada não significa que estejas em condições de te defenderes.
-E o que é que tu sabes disso? - ele, sem dizer nada, olhou para ela sorriu lançou-se a ela, retirou-lhe a vara das mãos e executou um movimento de ataque que só parou junto ao joelho direito dela! Ela ficou a olhar pasmada, mas não disse nada.
-Ontem ainda andou gente no teu campo. Uma mulher para ser mais exacto.
-A Discípula!
-Não. A Discípula está no Grande Vale - calou-se por uns instantes -, mas de facto é alguém parecido com ela...
-Estás a falar do quê?
-Das pegadas.
-Pegadas? Neste chão duro?
-Olha para o chão debaixo dos teus pés e diz-me que não deixas lá nenhuma marca.
Levantando um pé, ela reparou que as ervas secas se apresentavam esmagadas, descrevendo com perfeição o local onde o seu pé havia estado.
-Pronto... Pegadas!
-Não sei quem foi, mas a direcção que tomou é aquela que nós também vamos tomar.
-Não regressamos à aldeia?
-Regressamos, mas podemos acompanhar o trilho nos primeiros passos uma vez que se dirige à montanha.
Acompanharam o trilho alguns passos mais do que os primeiros. Poderiam inclusaivamente tê-lo acompanhado na totalidade, se Exilado não conhecesse os atalhos da Montanha. Aprendiza por sei lado sentia um enorme fascínio por aquela figura que a guiava através de árvores e fragas, sempre caminhando em silêncio, com a sua figura alta a olhar o cume. Interrogava-se sobre o que se havia passado desde a última vez que se viram, o que ele havia visto, o que ele havia vivido e de tudo isso o que o havia transformado naquela figura silenciosa e soturna, que simultaneamente irradiava calma e confiança, como que se rodeado de uma aura de tranquilidade, enquanto que por dentro era corroído por uma batalha. Ele por seu lado não deixava de pensar, a cada passo firme que dava, sobre o que fariam quando chegassem à aldeia. Em particular o que ele faria! Tinha decidido dirigir-se à aldeia dos Caminhantes em primeiro lugar, eram o seu povo e recusavam poderes de fora. Por outro lado haviam já passado tanto tempo que receava ser visto por eles como alguém de fora. Era presos a estes pensamentos que continuavam Montanha acima, olhando-se ocasionalmente e rapidamente cortando o olhar. Quatro dias passaram na Montanha até finalmente chegarem à Primeira Clareira. Em tempo vivera aqui a tribo dos Nómadas. Era o primeiro de muitos campos que tinham, até chegarem ao Grande Vale, local onde passavam os dias quentes do ano. Nada restava desse campo glorioso exepto as cabanas e os restos de uma fogueira.
(continua)
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