Domingo, Janeiro 29, 2006

Contos do Exílio - O Regresso, parte V: O Confronto

- Discípula! - uma voz grita na escuridão de uma aldeia. - Discípula! Onde estás?
- Chamou Vidente? - responde, num murmúrio, uma segunda voz.
- Chamei.
- Que... - a Vidente faz-lhe um gesto de silêncio. As casas em redor estão vazias, construções de madeira, sem vida nem alegria. Na do meio senta-se a figura escanzelada da Vidente. De pé, à porta da barraca, a Discípula aguarda. Na distância ouve-se o assobiar do vento nas copas dos pinheiros e o roçagar das folhas dos carvalhos.
- Ouves? - perguntou a Vidente.
- O vento? - questionou a Discípula, com um tom de hesitação. Estava certa que era o vento, mas não sabia o que ouvir no vento...
- Sim, o vento! Ouves a mensagem que ele traz? Consegues distinguir o leve assobiar do vento, o que passa por cima da montanha, vindo de onde se apaga o sol, daquele que sobra monte abaixo?
- Não grande Vidente. - murmurou lamuriosa - Lamento mas não consigo... - disse envergonhada a figura magra, que se sentava agora ao lado da velha Vidente.
- Ajuda-me a ir lá para fora... - ordenou a mais velha. A mais nova ajudou-a a levantar-se e a custo e lentamente se dirigiram para o centro da aldeia. Sentaram-se e a mais velha começou, apontando para a encosta à sua frente:
- Vês como os pinheiros se agitam quando uma corrente desce a encosta? Agora pára e ouve... - A outra acenou afirmativamente, mas a velha não reagiu. De repente:
- Vês agora como as árvores estão paradas, mas o vento assobia por cima do monte?
- Oiço... dois sons distintos quando juntos, mas que separados parecem o mesmo. O que quer isto dizer?
- Ele não morreu! - afirmou a Vidente, e abriu os olhos, revelando as órbits brancas, sem nenhum vestígio de sangue. - Ele... não morreu! - Exclamou assustada.
- Quem? - perguntou a Discípula, assustada com as atitudes da Vidente.
- Ele não morreu! Ele vem aí... - insistiu, cada vez mais perturbada, a Vidente. Continuou assim por instantes. Exclamava cada vez frases mais complexas, ignorando os apelos murmurados da Discípula. "Não!" gritava, "Não! Ele não morreu! Ele vem aí, procura vingar-se, procura o que é dele... Não!" gritava agora a plenos pulmões, perante a assustada discípula. Foi então que começou com um guincho, progressivamente mais agudo, até que se calou.
- Vidente... - sussurrou a Discípula.
- Agora não. - interrompeu a Vidente - Arruma tudo. Voltamos à aldeia do caminhantes e voltamos ainda hoje. Temos duas fases para nos prepararmos. Explico-te tudo pelo caminho, mas prepara-te: na fase da Aparição a minha luz irá apagar-se.

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Metáforas dos meus sentimentos

A água corre rápida, devastada, triste
Não pode ser travada, segue o seu rumo

Sempre... sempre... sempre...

Um ego que se julga um lobo
E no fim se revela um bezerro
Uma fogueira de emoções que se acende
No reconhecimento de um erro
Mesmo quando não se o pretende...

Uma barragem que devia conter um rio
E que deixa passar uma torrente...
Nas águas, o reflexo da luz do passado
É quebrado pela escuridão do presente.
Força esgotada, rosto cansado...

Uma luta que a razão travou, incessante
Com um confuso e trémulo coração
Uma batalha épica, longa, intolerante
Que acaba num crepúsculo de emoção:
Mesmo vencendo a batalha, perdeu-se a guerra...

Tudo metáforas, simples metáforas
Do que foi,
Do que já não é,
E do que ficará para todo o sempre
[Ausente

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Quarta-feira, Janeiro 11, 2006

Testemunho matinal

Deixo o frio matinal percorrer-me pela manhã, longe do aquecimento espiritual de outros tempos.
Saudades, saudades do tempo sempre meu, dos caminhos e dos amigos... e do regresso em paz.
Olho para a ponte... Por baixo dela passo...

Quem me dera passar por cima... deste sentimento...
Afinal a vida é o momento... e esquecer apenas adia o tormento deste sofrimento.

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Sexta-feira, Janeiro 06, 2006

Ficar

Neste lugar que amo,
As tuas mãos, pedaços de noite,
Em silêncio
- Silêncio total -
Dentro do poema,
São janelas de luz

Como nessa manhã
Que o meu corpo ao receber-te
Foi o porto, balizado de ternura,
Como o mar
E de dor a arder no teu nome,
A descobrir nesse peito ferido
A vontade e o desejo e o medo de ficar



Vanessa Pelerigo

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Quinta-feira, Janeiro 05, 2006

"O silêncio devora o escuro da noite, apagando as luzes que teimo em manter acesas. O medo de não estares ao pé de mim queima-me a pele, deixando cicatrizes profundas na minha alma..."

Guarda um espaço em ti para mim. Deixa-me perder entre os teus olhos verdes, devagar, como se mergulhasse num mar só teu. Deixa-me vogar por entre as ondas dos teus olhos e sentir a tua alma envolver-me. Tens espaço em ti para mim? Será que podes partilhar parte do teu calor comigo? Eu acredito que sim, que tens algo em ti para mim, que os meus sonhos também são teus e que juntos fazemos algo melhor.
Deixa-me agarrar-te mais um pouco, deixa-me aquecer no teu coração, não fujas agora de mim. Deixa-me perder entre os teus lábios, preciso tanto do teu amor. Deixa-me crescer em ti, deixa-me amadurecer e deixar de ser criança. Dá-me os teus sonhos, diz-me que me amas e pouco a pouco deixemos a vida tomar conta de nós. Preciso de alguem que me abraçe, preciso do calor que é nosso, preciso do teu amor.