Quarta-feira, Abril 27, 2005

Sombras negras

Sombras negras esvoaçam no pensamento,
Que com melancolia distorce a realidade.
Vergonha cega, fugitiva da verdade,
Foge do mundo, alimentando o ressentimento.

A solidão abre a mão ao desconhecido,
Erguendo sua muralha, o egocentrismo.
O recalcamento da ira, o negativismo,
Adormeceu o mundo, deixando-o perdido.

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Quarta-feira, Abril 13, 2005

Confesso

Confesso: não sei se sou amada por ti...Fosse tudo o que fosse este modo de amar que é silêncio e tudo o mais o espaço em que a ausência está só...
Porque há pouco passava por ti e só as tuas mãos me pertenciam na noite clara do teu peito. Da tua pele sei pouco, a não ser que é macia e é dela que me alimento quando chamo o teu nome. As ruas são, apenas, o único ponto sem oscilação, onde se tece a respiração. São estreitas. Demasiado estreitas para te poder algum dia abraçar.
Em passos rápidos e curtos, calcorreio a cidade. Bebo dos passeios, das pessoas encostadas aos muros e engulo. Às vezes, parece que fica um nó na garganta e a saliva corta como se fosse um agudo seixo com que me rasgo. Agarro rapidamente num copo de água e como em jeito de auto-medicação espero que as lembranças se afoguem, que o diaframa se contraia de tal modo que nada mais existirá que a possibilidade de desmaiar e adormecer.
A espera coalha. Eu canso-me de estar à espera desta espera que um dia te espera amar. Como se houvesse aquela ternura com que te olho desfeita em ínfimas parcelas de medo e de reclusos beijos que, a pouco e pouco, escorregam dos lábios. De novo, levo o copo à boca. Mais um gole. Sobre a poeira da mesa e dos livros, abertos ao acaso, ostento as palavras. Visto-as de luto e sobre a campa deposito flores. Creio que morro aos poucos, também.
A sede estanca. As flores murcham. As palavras estão por demais gastas e incapazes de te dizer o que quer que seja. Mas é inevitável fazê-lo. Escrever-te, querer-te.
Deito-me comigo e o sono é breve, quase como um pássaro que não pousa. Desperto sobressaltada. Quente e suada.

Acordo. Pode ser que os pesadelos um dia deixem de povoar as minhas sombras.

Vejo o teu vulto ao longe e o teu gesto tatuado no encaixe perfeito do meu corpo. O cabelo pende-te sobre os olhos. Deito-me ao teu lado e adormecemo-nos devagar. Baloiçamo-nos e só um pedaço de luz te ilumina as coxas. Confesso que nada mais importa que este momento. Abraça-me.

Vanessa Pelerigo

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Terça-feira, Abril 12, 2005

Viagens

Longe vão as viagens do ser,
Perdidas da emoção e da vida.
Prazer libidinoso, imaturo...
No futuro cresce e torna-se maduro.

Mão jovem procurou...

Procurou desvendar o mundo,
Navegar pela lógica negra da vida.
Mas medos travaram-lhe o caminho...
Vozes interiores negavam conhecer.

A mão adolescente tremeu...

Abrandou a conquista obscura,
Aproximou-se da emoção.
O coração batia, maduro...
Tinha encontrado o seu futuro.

A mão que restou...

Caminha devagar no seu lugar.
Pois a viagem há de terminar.
Paixão e memória, darão o fruto!
Os último suspiros, serão a vida.

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