Quinta-feira, Janeiro 20, 2005

Tonan, O Barbariano - 5ª Parte

O recém-iniciado nas Artes Místicas e Afins (não confundir com Artes Arcanas, Marciais E Outras Que Tais, um canudo tão desejado como difícil de obter) olhava, incrédulo e apavorado, para a inverosímil personagem à sua frente. O terrível Barbariano com que se deparava fazia mais que juz às medonhas histórias que o infeliz pseudomago ouvira na sua infância, com a agravante de vir acompanhado do factor "cheiro", uma sensação tão desagradavelmente pungente que quase fizera o pobre e cabeçudo aprendiz esquecer as vestes urinadas (que por pouco também não borrara de medo)...
- "Ughar! Ittuk!" - grunhiu Tonan, pois este era o nome pelo qual era conhecido o temível salteador, molestador de frades e devorador de criancinhas (não, não os troquei). Encontrava-se desarmado pois perdera as suas armas na longa viagem desde a Floresta Negra até à Orla.
Poderia pensar-se que a sua natureza animalesca o tivesse tornado desajeitado ao ponto de perder os seus utensílios por pura inconsciência. Tal era não apenas uma dedução incorrecta como também uma subestimação grosseira, pois qualquer arma resistia pouco tempo a Tonan, último dos Gu'Man, devido ao tremendo desgaste que sofria nas mãos desse virtuoso carniceiro. Apenas um instrumento em particular resistia a tal manipulação, mas não reproduzirei aqui a sua descrição para evitar ferir as mentes mais susceptíveis...
Era, pois, um Barbariano desarmado que se apresentava ao jovem aprendiz, o que de maneira nenhuma o tranquilizava. Já tinha visto aqueles poderosíssimos braços em acção quando o selvagem, num ataque de fúria (os leitores assíduos decerto recordarão o pitoresco episódio), arrancara metade das árvores do bosque em que se encontravam. Aquela zona da Orla - o nome dado à região da periferia de Tarkul, cidade capital de Takar - fora conhecida pela beleza da sua floresta de coníferas, da sua fauna delicada de corças e felpudos esquilos... Agora, com a sua vegetação devastada, o ar conspurcado pelo fedor pestilencial, a bicharada pisada e devorada, a sua beleza fora-se para sempre. Assim era onde quer que passasse Tonan.
- "Ughar! Ittuk!" - repetiu Tonan, feito notável para algo com uma mente tão rudimentar.
O semifeiticeiro indagava-se acerca de tais grunhidos quando se tornou claro o seu significado: Tonan corria na sua direcção, uma fúria insana no seu olhar!
Genuinamente aterrorizado, o jovem mágico pré-amador invocou, como recurso desesperado, o único encantamento ofensivo que aprendera em toda a sua vida:
- "Crescepello!!!"

(fim da 5ª Parte)

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