Sexta-feira, Março 26, 2004

Ao sabor do vento...

É duro, não é?
Olhas à tua volta e não vês mais do que o mar,
Eterno e intemporal,
Com o seu ondular constante,
O seu lamento tumultuoso,
E tu
Sozinho no meio, flutuando como uma pena
Ao sabor do vento,
Percorrendo montanhas e vales,
Desertos e cidades,
Sem resistir à direcção imposta, flutuando
Docemente, calmamente...
Custa-te, mas tem de ser!
Não podes, não consegues lutar!
Resistência é um mero pensamento
Que te assombra ocasionalmente...

Duro é ver-te!
Olhar-te como se olha a dança das folhas no Outono.
Como se do alto te esticassem a mão e tu fugisses,
Actuando como a borboleta, que foge à rede
Do inocente coleccionador.
Que te oferece a inacção?
Que prazer tiras do não fazer?
Será pois tua acção o bolinar,
Ou será teu pecado, somente, não lutar?

Etiquetas:

Segunda-feira, Março 22, 2004

O ser humano numa fracção de segundo

Último suspiro de agonia, limiar do medo e da dor.

...

Ainda existo, anda tudo rápido, tão rápido...zumbido insuportável submerso no vácuo ...mais rápido, mais rápido!!. Sinto a cabeça a estalar, grito de dor mas não me consigo ouvir, sobressalto de terror sem saber o que está para vir.
Num instante tudo muda, zumbido silencia, dor cessa, medo já não tem razão de ser.
Vejo uma luz branca que se dirige para mim, oiço vozes que há muito não ouvia, falam todas ao mesmo tempo, não as consigo entender.

À medida que me aproximo da luz vou desvendando de quem e para quem são aquelas vozes. É o meu avô que me fala:
- ” Não tenhas medo, já não falta muito para nos voltarmos a encontrar”
Oiço também a voz dos meus pais, amigos, irmãos...falam-me todos num tom suave, dizem-me que já estou quase a chegar...já não me sinto sozinho, quero cantar, quero dançar, quero-vos abraçar.

Deixei de ouvir as vozes, acabei de entrar na luz. Ecoa o som de um coração batendo lentamente. Começo a ouvir uma voz a cantarolar, soando baixinho, abafada pelo palpitar do coração. Lentamente o compasso cardíaco vai dando lugar à cantilena, é uma triste canção e sou eu que a estou a cantar...consigo ver a minha sala de estar, consigo ver-me a mim próprio, vejo-me no espelho, são lágrimas que inundam as rugas da minha face quais rios alimentados pela torrente de recordações que preenchem os meus últimos dias. Foi esta manhã que isto aconteceu lembro-me perfeitamente, mas como?!!?? De repente tudo se esfuma...

Encontro-me agora noutro lugar, vejo uma bela manhã sobre a janela de um hospital, consigo ouvir os pássaros cantarolar acompanhados pelo compasso de passos atrás de mim, sinto um ligeiro toque no ombro é um homem de bata branca, supostamente um médico “o seu neto já nasceu, é um menino, venha vê-lo siga por este corredor, ao fundo à esquerda”. Rapidamente por corredores, vejo macas, enfermeiros, oiço gritos de agonia, risos de alegria. Chego a uma sala, vejo a minha filha numa cara lívida indicando-me com os olhos o bebé que leva em braços, já mexe os bracinhos vai ser um reguila!!! O cenário incendeia-se, o pano de fundo cai...

Vejo a minha mulher caída em meus braços, olhar ofegante, gemido cortante. Olhando-a fixamente tentando perceber aquilo que quer dizer vejo seu gesto petrificar, sinto seu corpo gelar. Meu coração late desenfreado contigo a meu lado, sei que já não te posso ter, sem ti não sei viver!!! Vejo regatos a brotar do chão ao mesmo ritmo que um relvado se forma sobre os meus pés, diante dos meus olhos...

Continua...

Terça-feira, Março 16, 2004

Hecatombe - Parte IV - O Prepúcio do Fim

À entrada do Magnum Auditorium perfilava-se uma silhueta misteriosa, se bem que pouco imponente.

"Olhem, é ele!"
"Ali! Ali!"
"Oh, não!"
"Oh, sim!"
"Não!"
"Sim!"
"Oh!"
"Ah!"
Etc...

Cherneboff fumegava, um jorro negro brotava do buraco na sua gargantinha... Estava-se mesmo a ver que ia precisar de Tantum...

Entretanto, os alunos iam ressuscitando, lentamente; as almas inquietas no anseio de assistir ao combate do século (do Milénio!)...

" - A vossa atenção, séénhores e sééénhoraaas!"

"No canto laranja, meio azamboado mas ainda capaz de matar... Sua baixeza não tem igual... O seu hálito é FATAL!..."

"CHÉÉÉÉRRNEEBÓÓÓÓFF!!!"

A plateia Zombie apupava e de vez em quando saltava um pulmão, tal era o estado de podridão cadavérica...
A mesa dos corruptos aplaudia e tinha orgasmos de bajulação.

"No canto azul, do alto do seu metro e sessenta cinco de altura, com 395 quilos de potência cavalar, nada a perder e tudo a ganhar..."

Todo o Auditorium emudecera para ouvir o nome do misterioso desafiante...

"...BARÃO ENGUIA!"

O Barão Enguia! Assim era chamado aquele lendário ex-professor do Departamentóide, famoso pela sua indumentária metal (t-shirts MAIDEN) e cabelo oleoso, que abandonara a docência em litígio com o Directorado. Parece que não andavam muito satisfeitos com a natureza dos seus trabalhos de investigação, a altas horas de madrugada no gabinete...

De qualquer das maneiras, Barão Enguia estava de volta.
E fa-los-ia pagar caro a ignomínia de corromper a Instituição que, no fundo, ainda amava...

(talvez continue... não sei... bah...)

Etiquetas:

Terça-feira, Março 09, 2004

Amor... em quatro etapas.

No princípio a inocência,
Amor...
Abraços mágicos ao luar;
Um rio, um regaço aconchegante,
Uma só paixão, uma só crença,
Sentimento, terna doença...
Até ao abandono desesperante,
Um rasgo forte de dor
Para um novo abraçar:
Diferente, mas em transparência.

Depois veio a loucura,
O fim do amor...
O fim da compustura,
O fim da verdade,
O travo amargo da madrugada,
A travessia amargurada,
O desgosto que perdura;
Sem mel, sem doçura...
Desvaneio sem sanidade,
Louco incontido no seu fulgor.

Hoje a redenção...
Amor?!
Sem saber o que sentir,
Sem saber o que procurar.
Anseio sem coragem,
Sonho sem acreditar...
Não há magia ao anoitecer,
Rostos ternos a mudar,
Momentos a desvanecer,
Recordação sempre a surgir...
O barco já sem vapor
Que me deixa preso na margem...
Um ser em busca do seu perdão.

Amanhã, a incerteza...
Amor de verdade...?
Sentir o que já senti,
Perder o que já perdi,
Esperança sem idade...
Fardo carregado com leveza,
Ou folha insustentável da minha saudade...

Esperando pela mão que me venha buscar
Ou pela força que me faça voltar.

Etiquetas:

Domingo, Março 07, 2004

Poderia



Poderia ficar aqui por eternidades, olhando a Lua e vendo suas companheiras aparecer para iluminar os sonhos e os corações.
Poderia ficar por aqui por momentos, vendo as luzes da cidade a aparecerem, tentando ofuscar minhas palavras e meus pensamentos.
Poderia fechar os olhos e deixar-me submergir pelas lágrimas de uma paisagem tão calma.
Poderia fazer um gesto e varrer tudo da minha visão, esmagar a Lua com a minha mão.
Poderia sentir-me amadurecer, aprender com as fases da Lua que tudo acaba um dia e tudo volta a aparecer.
Poderia ser mais e talvez juntar-me a todos os outros que miram o céu.
Poderia ser tanto mas nada me interessa, viro as costas a tão pouca beleza e em Ti repouso de certeza.

Quinta-feira, Março 04, 2004

Sonha longe

Estava a ouvir uma música e ao som dela apeteceu-me expressar um pensamento:

Sonha longe, sonha acreditando,
Ouvindo os corvos no céu
Escutando suas palavras,
Nas asas negras, uma lição.

Sonha longe, sonha vivendo,
Canta olhando o chão
Entoando seus sons,
Nos teus pés brancos, a razão.

Sonha longe, sonha esperando
Reproduz-te no horizonte
Simulando linhas brandas,
Na esperança tardia, a paixão.

Etiquetas:

Algumas fotos antigas, outra não

Passagem de ano 2001-2002:
  • Degredo

  • Pessoal

  • Pessoal2


  • Cantina no 1º Ano 1999-2000:
  • Massarico


  • 2004, algumas cenas duvidosas de pessoas famosas:
  • Algo Estranho
  • Etiquetas:

    Terça-feira, Março 02, 2004

    Apenas sentindo (3ª parte)

    Toda aquela luz verde intensa se acomodou aos meus olhos, transformando-se numa floresta verde e odorífera onde se destacavam pinheiros, sobreiros e toda uma vegetação inferior variada. Os pássaros cantavam e as urtigas picavam, as abelhas zumbiam e meus olhos seguiam. O calor aumentava e o meu corpo aquecia.
    A luz filtrada pelas folhas tornava aquele sítio um local excepcional, a natureza reflectia a sua maior beleza! Olhei o céu azul no zénite… E caí de tontura…
    Continuei perdido no desmaio. Estava numa floresta linda e tinha acabado de sair de uma gruta…Até que de súbito alguém me volta a chamar! Eram as árvores!? Não, mexia-se… não libertava odor, era igual ao meu… fechei os olhos e imaginei que estava a olhar-me, e nisto uma mão segurou a minha, aproximou-se, tocou seus lábios nos meus e sussurrou: “Encontraste-me!”.


    FIM

    Etiquetas: