Terça-feira, Fevereiro 17, 2004

Caminhar,
Acto incessante de procura constante
Por algo de novo e belo
Que apague do sentimento
Essa dor, esse sufoco
Que de provocar tão grande sofrimento
Me impede de no caminho progredir.

Olhar,
Em meu redor as barreiras,
Ver as fronteiras dos caminhos,
sebes, rochas, arames com espinhos,
ver à tua frente outros mais velozes.

Sentir,
O ar quente e morno a dar-te no rosto,
O pó que se levanta e se mistura com o suor.

Querer caminhar para lá do horizonte,
Poder levantar fragas, vencer barreiras,
Chegar e dizer: é o fim!

16/Jun/2003

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Quarta-feira, Fevereiro 11, 2004

Quem és tu?
Leio-to nos olhos receosos...
Ao que vens?
Murmuram teus lábios mudos...
Não te aproximes!
Oscila o teu corpo frio...

Tu conheces-me!
Diz-te o meu olhar reconfortante...
Sabes o que quero!
Confessam-te os meus lábios vibrantes...
Não posso evitá-lo!
Envolve-te o meu corpo quente...

Aceita, dá-me todo o teu amor...
Doce e enebriante mel...

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Sexta-feira, Fevereiro 06, 2004

Apenas Sentindo... (2ª parte)

Sentei-me numa pedra por instantes a reflectir, a pensar mais pausadamente… apercebi-me que estava vestido com uns calções e uma camisa. Nos bolsos encontrei algo mas não me apercebi logo o que era… pela forma era uma fisga?! Não!? Para que precisaria eu de uma fisga ali? Podia ser que dê-se jeito mais tarde… Continuei a procurar, havia mais alguma coisa nos bolsos, um papel amachucado, daqueles plastificados… e uma pedra!
A minha arma de defesa estava completa… porque pensaria eu em arma de defesa?!
Ouvi uma voz ao longe, era o meu nome… Seria coincidência? Dirigi-me lentamente na direcção do chamamento. A voz era meiga e doce, tinha um tom assexuado, seria uma criança? Que mundo seria aquele, onde havia crianças na escuridão?
Passo a passo, entre pedras lisas e gélidas apercebo-me que os meus sons faziam eco várias vezes, seriam rochas à minha volta? Abri os braços a pouco e pouco até que sinto um dedo a tocar numa pedra, igualmente gélida, mas esta rugosa e mais robusta. Continuo a caminhar encostado à mesma.
A voz continuava a ouvir-se mas cada vez mais suave, notando-se um som de fundo, pingos de água a cair, estes entoavam como de um poço se tratasse… Há já algum tempo que tinha reparado que estava dentro de um gruta, e que andava aos círculos. Tinha começado a sentir alguma luz, mas como as pedras eram negras não tinha acreditado que era mesmo real. Já sentia a forma dos meus pés e das minhas mãos… de súbito, no fim da curva, tudo se transforma numa luz verde que invade o meu corpo. Não conseguia ver mais nada à minha volta, apenas tons verdes a reluzir…
(continua...)

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Segunda-feira, Fevereiro 02, 2004

Hecatombe - Parte III

Uma nova vaga de assalto estremeceu a Resistência até aos alicerces, e muitos foram os que cairam na face do novo Terror.
Os Informáticos foram subjugados por bonecas insufláveis e Internet de banda larga.
Os Físicos sucumbiram com o corte da luz e com o facto de já ninguém lhes ligar nenhuma.
Os papagaios dos Engenheiros cairam devido ao fio eléctrico ser demasiado pesado para o papel de que eram feitos.
Os Químicos, que, ao ficarem sem reagentes, não sabiam fazer mais nada, renderam-se em troca dum punhado de regularizadores de ebulição e batas lavadas.

No fim, os sobreviventes foram conduzidos ao Magnum Auditorium, onde foram expostos à cruel tortura de assistir ao discurso do novo Chefe do Directorado:

" - Bem-vindos ao novo amanhecer! Como futuros contribuintes têm o direito de assistir ao dealbar de uma nova era..."
" - Uma era de progresso, de desenvolvimento, de auto-estradas, de tachos... à vossa custa!!"

Nesse instante, uma miríade de tentáculos enferrujados desceu do tecto e, com precisão metálica, se cravaram cada um nos crânios dos infelizes prisioneiros.

Os gritos de terror e agonia misturavam-se com os repugnantes ruídos de sucção, enquanto toneladas de massa encefálica eram sugadas num compasso sincopado com as gargalhadas do novo Direktor.
Foi então que este deixou cair a máscara, e se viu, entre sangue e gemidos, a hedionda carantonha de peixe do próprio Chernebof.
Este vinha secundado pela Cruel Dama Láctea, a infame Quebra-Ossos!

"- A vossa tenra mioleira servirá de substrato para a criação dos meus novos servos..." - vaticinava, expectorante, um pustulento Cherneboff.

"- Julgava que fossem suficientemente deseducados e incultos para discutirem as minhas políticas... Julgava que os Centros Comerciais lhes iriam aplacar a veia contestatária... Qual quê! Só estão bem quando se estão a queixar... Queixem-se agora, penduricalhos!" - declamava o ditador. Mas naquela pilha de cadáveres exangues já ninguém o ouvia.

Perante uma vitória tão completa, Chernoboff não pode evitar uma gargalhada de triunfo:

"BUAHAHAHAHAHAHAHAHAARRGHUKLUKLUKLUKLUK!!!!"

O seu riso cavernoso dera lugar a um gorgolejo incongruente quando um micro-míssil TAKTIKOV(tm) o atingiu na garganta.

(continua...)

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