Contos do Exílio - O Regresso, parte II: Encontro (cont.)
Exilado... Vêm-lhe à cabeça imagens de uma aldeia, um grupo de adultos a olhar para ele, um grupo de crianças na brincadeira, uma caçada na floresta! Exilado... A palavra faz badalar um sino na sua cabeça, acorda nele a memória do antigamente, memória essa que lhe refresca a alma como se da brisa do mar, na orla do Grande Mar se tratasse!-Levanta-te Filho da Montanha! Aqueles que um dia chamaste pais esquecem-se de ti, a cada dia que passa e tu, preso neste teu exílio do mundo, acentuas o esquecimento, esqueces-te de quem és, de quem foste e de quem tens de ser! Levanta-te que não és nenhuma criatura da floresta, não te vergues como elas se vergam perante ti.
Toda e cada palavra que o velho pronunciava, despertavam-no para a sua humanidade. Sentia-se agora como não se sentia havia já muitas Viagens... Sentia-se um Homem Novo, sentia que tinha acabado de nascer só que o mundo lá fora não era estranho, só os sentimentos! Levantou-se e caminhou em direcção ao velho, que entretanto não mexera mais nenhum músculo para além dos necessários para levantar levemente um dos cantos da boca, gesto que lhe acentuava as muitas rugas do rosto.
-Tenho fome... Tenho sede... - balbuciou, a sua voz entaramelada dada as poucas palavras que havia pronunciado desde que chegara à floresta. Parecia-lhe que era a primeira vez, desde sempre, que se dirigia a alguém. Não andava longe desta realidade uma vez que essa última vez havia já sido apagada da sua memória e certamente não lhe havia transmitido a satisfação que este encontro lhe trazia.
-Acredito, Filho da Montanha, Exilado do teu povo, Vítima Injustiçada. Senta-te comigo junto do fogo, trouxe-te comida e vestes. - dizendo isto sentou-se. O Exilado sentou-se ao seu lado. Sentia agora na face o ar quente que emanava da fogueira. Comeu do pão que o velho trazia, saciando-se como se de um animal de grande porte se tratasse. De seguida bebeu do cantil do velho, que lhe assegurava que era água, no entanto não havia água em toda a floresta que fosse tão refrescante e que mais do que saciar a sede, aliviava os pensamentos e parecia limpá-lo por dentro. Quando acabou o velho ordenou-lhe que dormisse ali no chão, junto à fogueira. "A manhã traz consigo um novo dia. Que estejas recuperado para o enfrentares e à tua nova vida."
Etiquetas: Barata, Contos do Exílio
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