Contos do Exílio - A Fera (Conclusão)
Um enorme estrondo ouve-se no ar, seguido de uma pancada seca no chão. A fera jaz agora sobre o lado, a poucos dedos de distância dele. No seu olhar vidrado ele consegue ver reflectida a incapacidade de lutar contra a morte. A fera ainda mexe. Tenta arrastar-se para longe, recolher-se ao seu abrigo, evidente como está a certeza da derrota, tentando fugir na esperança vã de se esconder de um poder maior que o seu. Só que a Natureza não lhe deu as armas para lutar contra o mal que lhe abriu o coração e o seu factor de cura não é suficientemente rápido para contrariar a rapidez da morte que se aproxima. Em breve expira pela última vez, ali jazendo no chão.Estupefacto e revoltado pela agonia do lento expirar do seu adversário, apavorado pela Morte Escondida, começa a correr em círculos na clareira, emitindo os sons guturais, tão característicos dos seus últimos meses na floresta, num misto de exaltação da vitória e pavor por se sentir ameaçado por um inimigo oculto.
-Amigo! Ei amigo! Você está bem? - Uma voz por trás de um arbusto, um ser... como ele! Aproxima-se descontraidamente, coberto por uma estranha carapaça e segurando na mão um pau fumegante. Traz na cara um ar amistoso e um largo sorriso.
-Então amigo? Isso são preparos de se engalfinhar contra um lobo desse tamanho? Você não quer ir até à minha cabana, já ali do outro lado da Grande Clareira?
Porque aponta ele para a Zona da Morte, o local da floresta donde nenhum animal regressa com vida? Quando ele se encontra já próximo é que uma revelação o atinge como uma pedra na cabeça: este é o cheiro do fogo assassino, cujo rumor se espalhou já na floresta, este é o ser responsável pelas mortes misteriosas de animais vigorosos, este é o responsável pelas mortes cobardes, como aquela que acabou de presenciar e a do Grande Lobo há apenas duas luas, este é o animal tido como mais cobarde que a hiena e um prenúncio de morte mais certo que o abutre...
Com todos estes pensamentos na cabeça, não lhe custa saltar para cima do agressor e facilmente partir-lhe o pescoço.
Etiquetas: Barata, Contos do Exílio
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