Segunda-feira, Maio 24, 2004

Pensamentos avançados...formas de expressão primitivas

11/05/2004 (à noite)

Não é novidade para ninguém que o ser humano é deveras um ser com uma mente muito complexa. Somos um ser que foi feito para pensar, senão experimentem ficar uns momentos sem pensar em nada...tarefa complicada não? Todos os gestos, todos os olhares, todos os tons de voz daqueles que nos rodeiam passam pelo crivo do nosso pensamento. O controle é tão rigoroso que o mais distraído poderá estranhar porque é que determinado indivíduo deixou de lhe falar sem qualquer motivo aparente.

Mas isto não é tudo...o nosso pensamento é tão complexo que é impossível expressar por palavras, muito menos por silogismos organizados, aquilo que nos vai cá dentro...aqueles que se aproximam mais são os poetas, que acabam por dizer aquilo que toda a gente pensa mas que não tem coragem nem capacidade para expressá-lo num raciocínio coerente e aceitável com valores vigentes relativamente a um tempo e a uma sociedade. Sim, valores!!! Ou pensam que aquilo que vocês pensam está desprovido de sentimentos, desejos, interesses ou convicções!!!

Os nossos pensamentos têm uma forte componente sentimental. Vejo o sentimento reflectir-se no pensamento de duas formas distintas. Como sentimento contido no pensamento que é irracional relativamente ao cânon da sociedade, mas que inconscientemente o tem em conta, tal qual fosse um reflexo espontâneo. Temos, por outro lado, o sentimento como força motriz do pensamento que passo a explicar agora. Andamos num estranho equilíbrio entre o ponderar muito bem as consequências das nossas acções sentimento-motivadas e o não ponderar de todo as mesmas. Por um lado a primeira hipótese oferece controlo e segurança mas torna a acção pouco espontânea e inibida. Por outro lado, a segunda permite atingir picos de genialidade, mas também permite atingir picos de estupidez. Os sentimentos são um catalizador com um potencial imenso potenciando a formação de novas conecções nervosas nunca dantes experimentadas. Assim temos mais e novos pensamentos prontos a saltar cá para fora e sujeitar-se ao teste do comportamento padrão. Assim, tendo em conta o que foi dito atrás, o sentimento está na génese e essência do pensamento.


24/05/2004 (à tarde)


Às vezes até penso que, em sociedade, vivemos numa espécie de equilíbrio instável. Equilíbrios contidos uns nos outros. Qual o mais abrangente e qual o mais restrito? Quantos equilíbrios? Será que é honesto falar em contagem? Será que estão estritamente contidos uns nos outros, ou assumem uma relação inimaginávelmente mais complexa? Às duas ultimais questões talvez saiba responder duma forma intuitiva, também são as mais genéricas; dão muita margem de manobra para não errar e para não cair na tentação de ser demasiadamente determinista. Mas às vezes penso...há certas alturas em que penso ser essencial ser determinista, temos exemplos na Física (teoria relativista de Einstein, que agora parece estar demonstrado ter algumas inconsistências (1) ), Filosofia (o conceito de tábua rasa de John Lock (2) que, apesar de incorrecta, permitiu retirar excessivo peso à inteligência herdada), Religião (o conceito de ecumenismo de Mahatma Gandhi unindo edifícios religiosos aparentemente incompatíveis (3)), Psicologia (Freud (2) e a tipologia da mente em três partes - id, ego e super-ego)
...

Acredito, meus senhores, que todas estas descobertas/teorizações são fragmentos de verdade, construídas com base em crenças, desejos ou até mesmo preferências...em suma...emoções. Para mim começa a tornar-se claro o quão importantes são estas emoções, que se equilibram(A) incessantemente com o super-ego ou com algo mais complexo, que poderia estar relacionado com equilíbrio (B) entre as nossas subtis especificidades, mas que ainda não atingimos. Consigo ver o equilíbrio(B) dentro do equilíbrio(A) e vice-versa, mas qual o peso que assume cada contribuição? Pergunto outra vez, será assim tão simples? Não creio. Acredito, de uma forma genérica, que as emoções são o vector que nos faz não ficar parado com medo de errar, talvez não sejam as únicas responsáveis meus amigos, mas paciência, a verdade vai-se saboreando à medida que, lentamente, nos vai sendo dada a conhecer...por deterministas é certo...mas não deixa de ser verdade.

22/05/2004 (à tarde)

Dada a impossibilidade de expressar os nossos pensamentos integralmente de uma forma coerente e aceitável, usamos nos nossos diálogos do dia-a-dia fórmulas optimizadas que se repetem incessantemente nas mais banais situações do dia a dia. Desta maneira, acabamos por usar todos a mesma linguagem, linguagem que anda a um nível mais baixo que o nosso pensamento... é o preço que pagamos para nos podermos entender. Àqueles que estão conscientes deste facto um pedido: tenham mais consideração pelo que os outros dizem, por ventura não será profundo relativamente ao que vocês pensam mas também estamos só a comparar batatas com cenouras.


1) João Magueijo; Mais rápido que a luz “A biografia de uma especulação científica”; gradiva; 2003
2) Sprinthall, Norman A.; Sprinthall, Richard C. ; Psicologia Educacional; McGraw Hill; 1993
3) Richard Attenborough; Gandhi (filme); 1982

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