2000/Jun/5
Vê os vampiros,
Matam, sugam, roubam-te
As nuvens dos sonhos.
Senta-te aí nessa fonte,
Toma banho, lava-te,
Bebe o néctar, vê a luz
Da aurora que cresce e vê-os
A voltarem ao seu abrigo.
Segue-os, voa com eles, por esse céu
Verde do teu sonho e vê, como
Perante os teus olhos eles te roubam
As nuvens, a chuva e
A água que rega as tuas sementes.
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ESCREVER (aqui nasceu o Horélio!)
PARTE 1
Escrever é um escape. Digo-o... Não! Escrevo-o! Escrevo-o por ser verdade. Escrevo para descomprimir, para relaxar, para exercitar a cabeça em busca da palavra certa para escrever a seguir a esta. Rebusco na minha alma as situações passíveis de serem escritas, filtro nos neurónios as sensações descritíveis das indescritíveis e escrevo, claro está, as primeiras. Escrevo para desbafar de tudo o que faço e me fazem e fizeram; escrevo pelo prazer de navegar por mundos de palavras, criar mundos, criar homens e criar mulheres e criar velhos e criar crianças e tê-los nos meus escritos tão iguais ao real.
Escrever é ser Deus. É ter o poder de matar, de ressuscitar, de provocar o Big-Bang, de estar em todo o lado, a toda a hora, de saber a vida de todos até àquele momento fatal em que ela termina, controlar essa mesma vida da forma que mais me agradar, ora dando-lhe um final trágico heróico ora cobardemente discreto. É fazer personagens pobres e ricas, ricos pobres e pobres ricos, é dar eu a minha própria distinção entre o bem e o mal, é nunca morrer enquanto houver gente para ler, gente que não esquece que a liberdade atinge o seu ponto máximo quando ninguém nos segura a mão e livremente damos existência material à abstracção confinada aos nossos pensamentos.
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O que será afinal quando as palavras voam ?!
Deitado olhando o infinito,
Navego nas palavras
Escondido no silêncio do mito,
Nas obras, barcos perdidos.
Soam ventos, soam marés
Nas imagens a meus pés.
Sonhando ouvindo o mundo
Perdido nos seus sons
Procurando bem fundo,
As cores e seus tons.
Chamam-lhe vento
E sua graça não se vê,
Sabemos que cria desgraça
Quando alguém não o prevê.
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2000/Mai/15
Não preciso de ti, da tua opinião,
Aprovação, negação,
Para saber o que fazer!
Nunca tal te pedi, nem quero.
A vida é algo mais que passear
Um corpo que acabará sempre por ser pó...
Viver é ser livre, ser livre é saber pensar,
Saber pensar, ser independente, independência
É dizer não e dizer sim, é não haver
Talvez e pode ser.
Não te quero ao meu lado sussurrando-me que fazer.
Não quero receber só o teu perfil,
Quero-te olhar por trás e pela frente,
À direita e à esquerda,
Quero-te ouvir falar, não porque duvide de ti,
Mas para ter a certeza, que sim,
Tens uma cabeça cheia com algo mais
Do que um aglomerado celular que controla
As hormonas.
Quero-te a meu lado, para que me dês razão
E discordes das minhas opiniões simultaneamente.
Para que me mostres mais um ângulo
Por onde ver o mundo.
Para que, com a tua ajuda possa mais e mais
Ser cada vez mais independente, para ser mais livre
Para que cada dia saiba mais e melhor viver.
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PODER
E pudesse a poesia pintar o real,
Em cores irreais e de formas iguais.
Pudesse a poesia ainda ver o dia
Em que tudo diria e ninguém o sabia.
E pudesse ela falar de tudo o que eu via,
E só eu, só eu o saberia!
Pudesse a poesia, quem sabe... falar
Para mil e uma coisas nos poder contar.
Pudesseeu esboçar, nas linhas de um poema,
Rimas soltas de uma alma cega.
E quisesse eu um dia olhar para a poesia
Sem ver nela um traço de melancolia.
Mudem-se então as formas,
Acabem-se as regras,
Abaixo as cores,
Calem-se os doutores,
Troquemos o mundo, bem de alto a fundo,
Façamos clamores, aos dias vindouros.
Pintemos alegria e cores vivas
Onde há silêncio e decadência
Disfarcemos as olheiras, com rodelas de pepino
Porque qualquer dia quem taveira
Deixará de ser menino.
15/Jan/2002
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Novelo da Vida
Desenrola este novelo.
Que vês? Para onde quer que olhes, só existe linha. Fios finos, redondos, brancos, por vezes frágeis, às vezes resistentes.
Continua a desenrolar.
Entendes este novelo? Consegues distinguir a primeira linha da última, aquela que já tocaste da que ainda não é tua? Que sabes tu desta linha? Que procuras neste novelo? As respostas? As dúvidas? As respostas das dúvidas ou as dúvidas das respostas? Responde! Não sabes? De que te serviu então desenrolar este novelo? Consegues distinguir o extremo primeiro do último? Consegues dizer quão fina é a linha, ou quão perfeito é o emaranhado em que te embrenhaste? Porque te empenhaste em desvendar tamanho novelo? Para alimentar a sanha do teu ego, a sede insaciável da tua presunção? Desiste. Este novelo, tal como muitos outros, não consegues tu desvendar. Que lucraste com teu vão e glorioso esforço? Nada, absolutamente nada.
E agora?
E agora?!
Volta a enrolar a linha. Forma de novo o novelo do qual partiste. És capaz? Não, nem isso consegues. O primeiro novelo era demasiado confuso, e este é agora absolutamente impenetrável. Deixaste as tuas mãos emaranhadas na trama desta linha. Olha bem para ti. Não consegues desprendê-las, pois não? Que restou de todo este ávido esforço? Tiraste dele algum proveito? Em ti não há senão desespero, confusão maior, insegurança, medo, muito medo... Mas a sede louca, desnorteada, de desenrolar quantos novelos te venham à mão não desapareceu, continua dentro de ti, murmurando, gritando, sem descanso, unindo o seu eco aos nossos ecos, até de avidez rebentares e de novo te emaranhares.
Nunca aprendes, pois não?
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Passeio preto e branco
Passeio preto e branco em frente, na calçada de uma rua, caminho saltando nos brancos com medo de os pretos pisar… Não é medo que me faz desviar mas o ritmo de os saltar.
Rostos pálidos, rostos coloridos, vozes que entoam mil e uma palavra, olhares tristes sem brilho, olhares reluzentes numa sinfonia de cores. E nesta diversidade passeio eu vendo as sombras das casas baixas e sem luz. No céu pombos voam no cinzento contrastante e gaivotas esbeltam-no com o seu voou conquistante.
Olho o rio sem cor definida, nele há tons laranjas do reflexo estrelar, nele há tons sombrios dos barcos a estalar… Carregados de gente… E eu ali omnipresente, apenas contemplando a vida na sua forma de ser.
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O Amor
O amor não é algo que se explica, é algo que se sente. É olhar, tocar em alguém e sentir o coração bater aceleradamente, contraindo e dilatando, tornando-se maior que o peito. É sentir o sangue quente correr loucamente no seu leito, em sobressaltos.
O amor representa a união de duas almas. Envolve confiança, amizade, carinho, compreensão.
Quando amamos verdadeiramente, vemos noutra pessoa a beleza que para outras é fealdade. Não me perguntem por que amo, eu não sei explicar. Só sei que este amor se manifesta dentro de mim como uma sensação de leveza, que me faz flutuar, um desejo incrível de gritar bem alto e dizer a toda a gente que gosto de ti.
Há na minha alma uma intensa luz branca, um estado de pureza e lucidez. O peito estala, o estômago comprime-se, os músculos retesam-se cada vez que penso em ti.
Um sentimento tão belo e, porém, a causa de enorme sofrimento.
Toda a alegria espontânea que este amor me dá vem, muitas vezes, acompanhada de dor. As ânsias, as desilusões, as preocupações surgem constantemente, sob a forma de uma lágrima, sob o nevoeiro do olhar, que paralisa o cérebro e os músculos. O desespero por alguém que hoje não me abraçou.
Mais do que um estado de espírito, o amor é uma forma de estar na vida. É o motivo pelo qual vale a pena estar aqui, é o elemento que impulsiona o meu viver. É aquilo que faz rir, chorar, ter um dia diferente todos os dias. Pelo amor, vale a pena esperar pelo amanhã.
O amor é aquele pozinho mágico que nos transforma a nós e aos nossos actos.
O amor é a química. Tu e eu somos os cientistas, os nossos corpos são o laboratório. Cada um dos nossos órgãos é o tubo de ensaio, onde misturamos a minha e a tua substância e obtemos uma reacção rápida e colorida.
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FLUTUAÇÃO
Sinto-me um peão num tabuleiro
Sinto a dor dentro de mim a cantar
Um cântico doce e suave de libertação
E o meus músculos revigorados com dós e sóis harmoniosos
Lutam contra essa mão gigante que me aperta.
Abro os olhos e olho em redor
Vejo que não era mão era tentáculo,
Um de muitos, que me agarrava,
Um entre muitos...
Enquanto trepo pelo mostrengo acima olho em redor
Vejo mais seres fantásticos,
Em todos eles rostos conhecidos
Em todos eles olhares adormecidos
Em todos um ar acomodado
Em todos um ser não libertado.
Trepo pela pele viscosa do polvo acima,
Cruzo-me com mais uns quantos no caminho
Tal como eu ouviram a sinfonia da liberdade
Ganharam forças e decidiram lutar.
Não se acomodaram, não estagnaram,
Ouviram a música e guardaram-na como hino eterno
Que toca nos seus corações sequiosos de paz e calma,
Mas o monstro nunca mais acaba e trepamos e trepamos
Acima acima acima
Cada vez mais alto
Mais alto
Mais alto
Sem nunca ver o topo, já não vendo os tentáculos.
Paramos para descansar. Alguns escorregam por ali abaixo
Sem se segurarem a nada, sem quererem ser seguros,
Outros retomam a viagem, outros ficam parados.
Hesito por um segundo, antes de desatar por ali acima
Com a ânsia de quem se cansou desta vida e da outra
E anseia por novos mundos, novas gentes, novos bichos,
Novos vícios que me devolvam o génio da pena,
Para que não morra aqui só e abandonada, a minha alma escrita
Com letras cor de luar, em folhas de raios solares,
Um pouco mais a norte da Felicidade, mais a sul do Inferno,
Mas sempre,
Sempre
Indecisa, sobre quem lê, quem escreve, quem é e quem no fundo
Sou eu...
Etiquetas: Barata
Beijo
Lindo, meigo, terno...
Cheio de vida,
Sorridente quando me vê
Transbordando amor...
[O teu olhar...
Renascido quando te olhou
Pulsante de alegria
Deliciado com o teu ser
Vibrante, querendo amar-te...
[O meu olhar...
Doces e brilhantes
Mesmo na escuridão, tentadores...
Minha eterna perdição
Desejando apenas encontrar
[Os teus lábios...
Quentes, embora secos
Querendo amar-te, ansiosos
Por sentir num beijo
Todo teu amor...
[Os meus lábios
Juntos como um só
Fervilhando de prazer, paixão...
Dança eterna, divina
Num segundo, todo o tempo...
[O nosso beijo
Etiquetas: João
Continuaçao...
A quem pediu a continuaçao fica aqui a mesma:
"Longe das letras eléctricas que costumavam vaguear no meu campo visual, longe da lapiseira viciada em matemática, longe de tudo o que é meu... Sinto no entanto que não preciso dessas coisas neste sítio, pois tudo em que me viciei, depressa pode ser esquecido... (Falo em bens materiais) Para quê estar sentado num computador quando nos podemos abstrair, ver o verdadeiro mundo e contempla-lo? Para quê ter um mundo tão idealizado? Quando ele é tão simples, quando apenas nós fazemos parte dele e não o contrário! Uma visão tão egocêntrica que manipula, constrói mas também destroi muito dos prazeres que ele nos deixa.
Nesta caminhada vital que me encheu de novo de ambição e paz interior, deixei o abrigo dos meus antepassados...de regresso à agitação teatral de uma vida socialmente agitada."
Etiquetas: Chas.
Marioneta
Marioneta. Como uma simples, rude e tosca marioneta de madeira, eis como me sinto. Preso por finos fios vulgares, estou ao sabor não do vento, mas da vontade de quem me usa, de quem me controla. De uma letargia aparente passo à actividade completa com uma pequeno gesto de mãos da minha dona. Não tenho sentir, não tenho imaginar, não tenho sorrir, tenho apenas uma máscara que provoca emoções diversas em quem comigo lida, tudo debaixo do jugo dela, sempre com um simples gesto de mãos, tão simples...
“Anda, dança, fala, para! Mexe, pula, rodopia, para!”
Faço tudo mas vejo-me na terceira pessoa, como se tivesse lá longe, bebedeira eterna em que não controlo o que faço... Não quero, tou farto! Não serei mais uma estúpida marioneta! Quero cortar os fios, quero libertar-me! E será só por mim e não por ela! As suas mãos não mais me irão dominar, nunca mais! Se a libertação significar a morte, morrerei, mas livre e eu próprio! Estúpido, rude, tosco, mas eu mesmo... livre...
- Mas quem cortou os fios ao xantocas? – disse em voz alta a Carlinha – Mãe, ó mãe,
estragaram-me a minha marioneta preferida! – gritou enquanto choramingava
- Deixa lá filha, a mãe depois compra uma mais bonita – consolou a menina a Dona Felismina entrando no quarto– essa também era tão velha e feia... dá-a ao cão que ele já roeu a última...
Etiquetas: João
Pensamentos
Já se encontrava parado naquele ponto à cerca de hora e meia, não havia maneira de o trânsito avançar mas, finalmente, as buzinas dos apressados à muito que tinham deixado de soar. O carro encontrava-se quente, sorte era que o dia já começava a refrescar à medida que o sol se punha no horizonte, laranja e enorme, querendo levar consigo todas as nuvens que se concentravam ao pé de si, rosadas e parecendo tão fofas. Há muito tempo que não olhava assim para um pôr-do-sol, realmente a ultima vez tinha sido... Os seus olhos encheram-se de lágrimas mal pensou nela; claro, como se podia esquecer? Ela tinha morrido à um ano mas a dor ainda lhe ardia no coração como se tivesse sido ontem. Ontem não podia ser, ele tinha ficado uma semana em coma a seguir ao acidente e por isso nem sequer tinha assistido ao funeral.
Durante os dois meses que se seguiram nunca tinha ficado um instante sozinho, os amigos tinham medo que ele quisesse ir ter com ela tal era a força do amor que os unia. Eles tinham aquele tipo de relação que a maioria das pessoas invejava, eram uma só alma em dois corpos, unidos por sonhos, palavras e gestos. Ele, em todos os gestos dela, encontrava a calma e por isso ficava horas a fio a vê-la dormir, enroscada sobre si própria e a chegar-se cada vez mais em busca do calor dele. Não tinham tido filhos devido a ele mas mesmo assim ela ficou a seu lado, muitos outros casais não teriam resistido. As saudades que ele tinha dela. Porque é que ele tinha resolvido ir conduzir com ela nessa noite fatídica? Porque não tinham ficado simplesmente em casa? Ele adorava conduzir, não era preciso ser rápido mas pelo menos sentir o carro debaixo dele, controlar toda aquela força... Os amigos tinham fartado de repetir que a culpa não tinha sido dele mas do outro condutor que tinha passado o vermelho mas mesmo assim...
Deu por si a sair do carro, a juntar-se a todos os outros condutores impacientes que esticavam o pescoço para ver o que tinha acontecido lá à frente, mas em vez de olhar para a frente deu por si a olhar lá para baixo, onde a alta velocidade passavam outros carros que podiam muito bem o matar rapidamente. O sol ia desaparecendo rapidamente no horizonte lançando a sua sombra enorme no pavimento lá em baixo enquanto que as recordações passavam pela sua mente a mil à hora, mas soube que não era capaz, podia nunca mais apaixonar-se mas não poderia deixar este mundo sem pelo menos deixar uma marca melhor do que sangue no alcatrão.
Enfiou-se no carro rapidamente à espera de não mudar de ideias e foi quando os carros começaram a avançar devagar. Na faixa da direita, um pouco mais à frente, encontrava-se a polícia em volta de um carro parado, com alguns dos agentes a comentarem em voz alta pormenores macabros. O dono do carro tinha-se suicidado.
Há algum tempo escrevi:
"...É noite, e a escuridão que teima em deixar a chuva cair faz-me regelar na solidão...Uma noite procurada pelos murmúrios de uma sinfonia espiritual, onde a minha voz soletra intrinsecamente apelos luminosos a uma canção espacial.
No tempo que passou dentro de mim pouco mudou, sinto o mesmo ar, as mesmas pessoas, e a respiração eleva em mim a sensação de pleno conforto. Sinto-me em casa, no local ideal neste espaço intemporal..."
Etiquetas: Chas.
Depois desta tremida tentativa de registo aqui estou eu blogtipado. Estes cabelos louros já começam a acusar a cervejola e depois do alcool desaparecer resta apenas a coloração. Aqui fica a minha 1ª contribuição que nada vem a acrescentar a esta cambada de blog-dependentes.
Apenas fica um conselho, tratem-se... Falta aqui muita vitamina na carola.
Niribinaimos violentamente...
Etiquetas: Chas.
A calma do fim
Mergulho no abismo sem medo, sentindo a calma que não é normal quando se está num mundo que não é o nosso. Deixo de sentir frio ou calor, e sinto na minha pele aquilo que não quero ver, litros e litros de água que me rodeiam e envolvem num abraço tão lindo como mortal. Sei que o sol entra suavemente e que os raios se espalham conferindo uma cor esverdeada à agua tão pura, sei que as pequenas nuvens no céu não notam o seu reflexo nesta água onde me encontro mergulhado. Mexo a mão e sinto meus músculos a retesarem-se e a exigirem de si um esforço que não era necessário. Mergulho mais fundo e sinto a areia sedosa como a mão de uma amante na minha barriga, sinto com meus dedos uma concha, nem grande ou pequena, simplesmente uma concha. Sei que as algas bailam devido aos meus movimentos que parecem tão ritmados.
Sinto o ar preso nos meus pulmões, o terror que se começa apoderando de mim, o medo que me trespassa a mente, a pressão enorme que quer rebentar minhas costelas, o pânico que se começa lentamente apoderando do meu corpo levando-me a tentar subir, a tentar atingir a superfície onde as ondas rebentam calmamente. Sinto meu ser a gemer do esforço e a levar-me a dobrar como se estivesse de novo na barriga da minha mãe, a agonia da morte passando como um raio enquanto me encontro na posição fetal, a ironia de meu corpo querer viver enquanto minha mente sente o sabor amargo da morte. O querer subir até à superfície, o querer viver, o querer respirar e o abrir da boca, o sentir da água gelada ocupando os meus pulmões e mergulhando-me na inconsciência, o escuro que mais não me deixa sentir.
E volto a sentir água, sinto as ondas batendo nas minhas pernas e inspiro, respiro o vento que me bate no rosto e não consigo falar, não tenho ninguém com quem falar aqui. Sinto a calma invadir-me o coração como se tivesse acabado de depositar a minha cabeça no teu colo. A vida desaparecida tendo como símbolo a retirada do meu corpo sem vida, uma concha vazia, das águas que rugem e rebentam. Sentir o fim que se aproxima enquanto me elevo no ar e por instantes vejo o meu reflexo nas águas.
A vida é o que fazemos dela
Uma mão cheia de coisa nenhuma
Estás à espera de palavras, palavras que formem frases e que te ensinem máximas de comportamento ou que traduzam uma inspiração que te comova. Se calhar já conheces o autor e só lês à espera de algo nojento e/ou repugnante que te permita dar azo à má-língua. Ou então talvez sejas dos poucos que pegam na página e, com um espirito aberto, só queres algo, mas algo o quê? Que esperas de mim? Esperas inspiração, repulsa ou adoração?
Por agora pensas para ti -Que seca- e decides-te a baixar a página, virar a folha mas vês que existem mais linhas, mais palavras ligadas por um sentido obscuro que desconheces, mais letras e letras e letras e letras e letras... Mas que se passou agora? Será que o disco ficou riscado? Este autor (se é que se pode dizer autor para isto) ficou maluco? Mas quem diz que a culpa é minha? Não serás tu, leitor, que viste repetido, se é que viste repetido, ou pensarás que a repetição de letras e letras e letras e letras... é uma figura de estilo merecedora do Prémio Nobel?
-Este gajo está a gozar comigo!- são as palavras que se devem estar a formar na tua cabeça agora, se não estiverem ou és muito paciente ou estás a gostar, se for esta ultima então estou comovido, será que conseguiste penetrar na minha couraça de palavras e chegaste a um ideal, uma alma. Se estavas a gostar então como fiquei comovido estraguei-te a sequência de ideias nenhumas, leitor, aquele que lê (desculpem-me se ofendo as leitoras mas neste mundo machista, se quero falar no geral, tem que ser assim).
Já chegaste aqui e vês que as linhas, as palavras, as letras (outra vez não) se aproximam do fim, pouco a pouco, sem eu dizer nada de maravilhoso, sem revelar uma inesperada inspiração, sem eu...
Espera, sinto algo, será a inspiração? Será uma amizade, ou pelo menos uma afinidade para contigo, leitor (leitora)?
É algo que se revela, passo a passo, como um raio de sol que aquece pouco a pouco. Chega de suspense, acabam-se as linhas desnecessárias, as palavras a mais, as letras agregadas,
Adeus