Terça-feira, Dezembro 16, 2003

Cabroac 3 (O fim de um mundo, uma etapa desconhecida)

...Olho fixamente para os seus olhos. Um misto de medo e incompreensão começam a tomar conta de mim. A atmosfera adensa-se ao fundo ouve-se o ribombar de um trovão, o céu enche-se de um ambiente de tensão.
As palavras custam a sair... Mas sinto que chegou altura de saber um pouco mais...
-Eu conheço-te... não sei de onde mas conheço-te.
Ele não parece ficar perturbado com as minhas palavras, e não diz nada... Riposto:
-Tenho a sensação de já te ter visto nos meus piores pressentimentos, nos meus sonhos mais negros... quem és tu, diz-me!?
Ele esboça um ligeiro sorriso:
-De facto conheces-me, mas se calhar não sabes quem sou. Faço parte do teu mundo de pesadelo, e sou mais do que tu podes ver aqui e agora!
- QUEM ÉS TU? DIZ-ME!
O ser começa a rir alto, e de forma estranha, como se muitos seres estivessem encerrados dentro dele, ao falar parece assumir vários tons de voz, começo a ficar com medo e deveras confundido:
- Eu sou apenas a representação de todo o mal que viste até hoje; eu não sou um, sou muitos. É simples: Desde que nasceste que eu existo, tu vês este mundo, sonhas com outro diferente, mas no fundo EU sou a verdade que tu vês, todo o mal. Eu sou a barreira mais negra dos teus sonhos, eu estou presente quando tentas vencer, e sou os vários rostos que vês quando és derrotado. Eu atormento a tua vida, destruo-a mercê da tua fraqueza, e não só. Eu rodeio todos aqueles que conheceste trazendo-lhes o caos, fazendo que também eles não entendam. Os cabroacs que conhecestes, são todos servos do Mal, mas também eles não têm culpa, assim como a representação que vês na tua frente não tem culpa: só nos alimentamos, das fraquezas de vós, pobres seres intergalácticos, dos vossos medos, das vossas pobres mentes. Á muito que alimentais o mal, esquecendo o amor, esse sentimento mesquinho que acreditaram ser a ponte para a felicidade, mas que não quiseram seguir como fonte para as vossas vidas, porque a oferta do reino do mal vos parecia mais tentadora, porque não vos livrastes das amarras que vos prendiam, lançadas por nós nos vossos planetas, nas vossas representações, nos vossos sonhos. E agora chegou o momento para ti de veres a REALIDADE! conseguirás resistir? AHAHAH!
O seu riso começa a fazer eco na minha cabeça como se tudo fosse um sonho... um sonho mau. Será que devo acreditar, se sim a realidade é mesmo um sonho e neste caso parece um pesadelo. Encho-me de coragem e grito:
-Eu vou vencer!!!
Ele responde sarcástico:
-É o que veremos, tantos que tentaram e poucos se conseguiram libertar e mesmos esses aguardam o mesmo destino trágico, aqueles que nós controlamos!! Observa!!!
De repente uma força imensa começa a formar-se. E absorto observo: Os dois guardas que se encontram perto do Cabroac que falava, são misteriosamente atraídos fundindo-se com o ser. Olho á volta: Todos os seres do planeta são atraídos também de forma impressionante, mas com uma particularidade arrepiante. Parecem sorrir de satisfação, iludidos, seduzidos pela doce loucura do mal. O ser com quem havia falado já não se via, tal o clarão de fogo gerado por tanta energia. Corro desperado numa última tentativa. Os olhos marejados de lágrimas, uma angústia imensa:
- RESISTI, NÃO VOS DEIXAIS IR, NÃÃÃÃÃÃOOOOOOOO!
E sou imediatamente projectado pela força monumental, oposta á força que não tenho para sair do pesadelo. Caio desamparado, enquanto o mundo desaparece por fim numa intensa bola de fogo...

Tit, tit, tit... o som de uma máquina, a agitação de um hospital, um sufoco, uma lágrima que parece se formar, não sei onde estou, não sei quem salvar... não sei me salvar.

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