DOMÍNIO
Viagem de carro a alta velocidade, olho pela janela vejo a paisagem a voar em frente aos meus olhos. Árvores verdes e árvores despidas, de cor castanha, passam-me à frente. Os rails da estrada, cinzentões, contrastam com os separadores bejes com grafittis que, sei lá para que é que servem, deve ser para cortar a merda do barulho dos carros. Não! Não vão cumprir o objectivo. Ponho o rádio bem alto, a banda não importa faz barulho, muito barulho, o som está distorcido de tão alto o volume, porque as colunas são uma merda.No banco de trás vão aqueles dois cromos que andam sempre colados a mim. Tou-me a cagar para o eles andarem atrás de mim, desde que não refilem, desde que me mantenham no meu altar e me adorem de rabo bem levantado para o ar, para levarem com o másculo e viril membro de cada um. Desde que repitam, sem parar, as deixas que eu digo, desde que vistam como eu visto e o que dizem pensar seja exactamente aquilo que eu penso.
Não me interessa que eles lá estejam, aliás se lá estiverem são menos dois que tenho com que me preocupar, daqueles que quero a todo o custo eliminar da minha vida, aqueles que viram a luz, que perceberam o meu objectivo triunfante e o que se esconde por detrás da minha face e dos oculinhos à intelectualóide que me custaram os olhos da cara, só para dar um ar de inteligente. Não que o não seja, mas não sou nenhum portento intelectual, sou mais um banal, que soube escolher bem os pacóvios que me rodeiam, de modo a poder sobressair, poder ser o mais elevado.
Conheci uns que vinham e que saíram, que em momentos souberam ver e souberam partir, tentando levar com eles os restantes, mostrar-lhes a luz, mas a minha música tocava alto demais para a bagagem deles, eles não sabem nem sonham que o idealismo deles não lhes permite ver a realidade, não lhes permite que possuam a coerência necessária para que a verdade, sim a verdade, que eles têm para contar, e que não é mais do que a minha verdade escondida, não têm a coerência para que a música deles seja mais apetecível do que a minha.
Até na música dou cartas. Até no vestir. Só não dou cartas nas coisas mais visíveis onde sou constantemente ultrapassado por aqueles que são, de facto, elos mais fortes do que eu. Se isso é problema? Para mim não, entra-se por uma da teoria da conspiração, de ver em todos gente má, gente que não quer partilhar o que sabe, gente que não é nada, e os que nada são, seres supremos os faço. E as ovelhinhas seguem impávidas e serenas sem questionar.
Acelero a fundo, estou-me a cagar para as multas, tenho lábia suficiente para fazer um leão acreditar, contra o que a Natureza lhe diz, que é vegetariano, então o polícia, se eu entrar por uma questão de relatividade restrita, baixando a bolinha então aí o xô agente perdoa-me a multa e nem ao balão vou para revelar aquilo que sou, um bêbado, que embebedei os dois do banco de trás, os do carro de trás, todos esse comboio, em que as portas da carruagem estão trancadas e não se abrem, a menos que eu o ordene.
O maquinista sou eu, eu é que decido a velocidade a que circulamos e qual, no final, a parede onde nos esbarramos!!! É bom ser o maior!
Etiquetas: Barata
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