Sexta-feira, Setembro 19, 2003

Novelo da Vida

Desenrola este novelo.
Que vês? Para onde quer que olhes, só existe linha. Fios finos, redondos, brancos, por vezes frágeis, às vezes resistentes.
Continua a desenrolar.
Entendes este novelo? Consegues distinguir a primeira linha da última, aquela que já tocaste da que ainda não é tua? Que sabes tu desta linha? Que procuras neste novelo? As respostas? As dúvidas? As respostas das dúvidas ou as dúvidas das respostas? Responde! Não sabes? De que te serviu então desenrolar este novelo? Consegues distinguir o extremo primeiro do último? Consegues dizer quão fina é a linha, ou quão perfeito é o emaranhado em que te embrenhaste? Porque te empenhaste em desvendar tamanho novelo? Para alimentar a sanha do teu ego, a sede insaciável da tua presunção? Desiste. Este novelo, tal como muitos outros, não consegues tu desvendar. Que lucraste com teu vão e glorioso esforço? Nada, absolutamente nada.
E agora?
E agora?!
Volta a enrolar a linha. Forma de novo o novelo do qual partiste. És capaz? Não, nem isso consegues. O primeiro novelo era demasiado confuso, e este é agora absolutamente impenetrável. Deixaste as tuas mãos emaranhadas na trama desta linha. Olha bem para ti. Não consegues desprendê-las, pois não? Que restou de todo este ávido esforço? Tiraste dele algum proveito? Em ti não há senão desespero, confusão maior, insegurança, medo, muito medo... Mas a sede louca, desnorteada, de desenrolar quantos novelos te venham à mão não desapareceu, continua dentro de ti, murmurando, gritando, sem descanso, unindo o seu eco aos nossos ecos, até de avidez rebentares e de novo te emaranhares.
Nunca aprendes, pois não?

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