Terça-feira, Setembro 16, 2003

FLUTUAÇÃO

Sinto-me um peão num tabuleiro
Sinto a dor dentro de mim a cantar
Um cântico doce e suave de libertação
E o meus músculos revigorados com dós e sóis harmoniosos
Lutam contra essa mão gigante que me aperta.

Abro os olhos e olho em redor
Vejo que não era mão era tentáculo,
Um de muitos, que me agarrava,
Um entre muitos...

Enquanto trepo pelo mostrengo acima olho em redor
Vejo mais seres fantásticos,
Em todos eles rostos conhecidos
Em todos eles olhares adormecidos
Em todos um ar acomodado
Em todos um ser não libertado.

Trepo pela pele viscosa do polvo acima,
Cruzo-me com mais uns quantos no caminho
Tal como eu ouviram a sinfonia da liberdade
Ganharam forças e decidiram lutar.
Não se acomodaram, não estagnaram,
Ouviram a música e guardaram-na como hino eterno
Que toca nos seus corações sequiosos de paz e calma,
Mas o monstro nunca mais acaba e trepamos e trepamos
Acima acima acima
Cada vez mais alto
Mais alto
Mais alto
Sem nunca ver o topo, já não vendo os tentáculos.

Paramos para descansar. Alguns escorregam por ali abaixo
Sem se segurarem a nada, sem quererem ser seguros,
Outros retomam a viagem, outros ficam parados.
Hesito por um segundo, antes de desatar por ali acima
Com a ânsia de quem se cansou desta vida e da outra
E anseia por novos mundos, novas gentes, novos bichos,
Novos vícios que me devolvam o génio da pena,
Para que não morra aqui só e abandonada, a minha alma escrita
Com letras cor de luar, em folhas de raios solares,
Um pouco mais a norte da Felicidade, mais a sul do Inferno,
Mas sempre,
Sempre
Indecisa, sobre quem lê, quem escreve, quem é e quem no fundo
Sou eu...

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